Jennifer Lopez e Josh Duhamel na melhor comédia de ação que você vai ver esta semana Divulgação / Lionsgate

Jennifer Lopez e Josh Duhamel na melhor comédia de ação que você vai ver esta semana

Namoros, matrimônios, separações e divórcios rondam as mentes frenéticas de cineastas, que valem-se de tudo quanto conseguem apreender da sociedade de seu tempo, refletindo também acerca do que observam de gente próxima, daquilo que imaginam ser o corriqueiro e, claro, de sua experiência para definir o que convém ou deve-se evitar numa relação pautada pelo amor. As paranoias de vidas fraturadas em alguma curva imprecisa do caminho — e por uma razão compartilhada só pelos dois — levam a uma  alquimia qualquer capaz de transformar inércia em ritmo, frenesi até, tudo pautado por uma cumplicidade meio irracional. 

A combinação de graça, calor e movimento, muito movimento, faz de “Casamento Armado” algo para além de um besteirol. Expondo segredos de um homem e de uma mulher que tentam disfarçar traumas que só concernem a eles mesmo, o filme de Jason Moore parece um desenho animado, com Jennifer Lopez e Josh Duhamel encarnando versões de Margarida e Pato Donald ou Minnie e Mickey Mouse numa confusão dos diabos, sobretudo a certa altura do roteiro de Mark Hammer, após quase consumadas as núpcias.

Em se lidando com os sentimentos mais impublicáveis de uma pessoa, tirar do limbo fatos e declarações que não dizem respeito a mais ninguém senão aos indivíduos, adultos e capazes, envolvidos nesses episódios só o que faz é trazer cizânia e quiçá tragédia. É absolutamente natural e mesmo defensável sob a perspectiva humanitária querer tomar algum partido na vida alheia, porém é da mesma forma prudente manter sob controle os ímpetos quanto a reger o que não lhe cabe, até porque todos, do varredor de rua ao rei, alcançando ainda as classes mais plurais de grã-finos de toda ordem, temos detalhes dos quais não nos orgulhamos em nossa biografia privada. Um ensaio para a cerimônia que unirá Darcy Rivera e Tom Fowler reúne toda a sorte de gente, de socialites a atletas, passando por executivos do showbiz, alguns deles parentes dos noivos. 

A festa lembra mais uma prova de fogo, durante a qual Darcy precisa tomar fôlego, sufocar qualquer laivo de autorrespeito e receber “convidados” como a nova namorada do pai, Harriet, mais nova que ela, e Sean Hawkins, o ex-marido — e não por acaso os personagem de D’Arcy Carden e de Lenny Kravitz são os responsáveis por parte da grande reviravolta da trama, numa ilha remota nas Filipinas, ao longo do segundo ato. Enquanto isso, Darcy aproveitar um ou outro momento de congraçamento com os pais, Roberto e Renata, num providencial respiro cômico guiado por Cheech Marin e Sônia Braga, tentando ainda levantar o moral de Tom, um jogador de beisebol decadente da liga secundária.

“Casamento Armado” chega a sua hora fatal quando antes de resolver os conflitos do casal de protagonistas, o que enfraquece um pouco a pirotecnia que o diretor tanto quer sublinhar, mas esse não chega a ser nenhum desastre. Talvez o  estranhamento se dê por Lopez e Duhamel já serem cinquentões na pele de pombinhos inconsequentes (com energia de sobra, frise-se), o que, aliás, aplica-se, por evidente, a Kravitz, nas duas linhas do comentário. Nada disso é o bastante para arrefecer o interesse do público sobre como Darcy e Tom intentam livrar-se das patranhas que os sabotadores de seu idílio esforçaram-se para armar, e ainda que eles sejam descolados na arte de fazer do limão uma limonada docinha, esse belo par de almas caóticas cortam um dobrado até seu merecido final feliz.

Filme: Casamento Armado
Diretor: Jason Moore 
Ano: 2022
Gênero: Ação/Comédia/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.