Bula conteúdo

Bukowski era mesmo um gênio ou só um velho bêbado misógino?

Bukowski era mesmo um gênio ou só um velho bêbado misógino?

Chovia. Ou talvez fosse outra coisa. Um rangido na janela, a cerveja quente na mão esquerda, a fumaça tentando virar pensamento. A vida não tinha pontuação. Ele olhava para o teto mofado como quem espera Deus responder um xingamento. A máquina de escrever gemia; cada letra era um soco em si mesmo. Alguém batia na porta do quarto 309, mas ele só levantava quando a garrafa esvaziava. E mesmo assim, não era por educação — era porque doía nas costas. Há escritores que vomitam beleza. Outros cospem sangue. Charles Bukowski escarrava.

Seremos obrigados a falar TODES? A nova gramática da militância

Seremos obrigados a falar TODES? A nova gramática da militância

Uma revolução lenta, mas estrepitosa, tem provocado fervorosos debates no Brasil e em outros países de língua latina: o vocabulário neutro. O todes, afinal, veio para ficar? A resposta curta é não. Entretanto, para que se chegue a uma constatação definitiva, há que se ter em análise as nuanças culturais, políticas, idiomáticas e até filosóficas que têm forjado a tal metamorfose, sintoma de um mundo que parece disposto a rejeitar tudo quanto cantava a velha musa — sem, contudo, saber precisar o valor do que deseja eleger como o novo parâmetro.

A Paixão Segundo G.H. é o maior caso de Síndrome de Estocolmo literária do Brasil

A Paixão Segundo G.H. é o maior caso de Síndrome de Estocolmo literária do Brasil

Clarice construiu uma armadilha perfeita. Uma armadilha que se alimenta da vaidade alheia. Quem ousa dizer que não gostou, que não entendeu, que teve sono, imediatamente se sente tolo. E é aí que mora a genialidade do sequestro. O livro transforma o desconforto em aura. E a aura, em reverência. Não porque seja impossível. Mas porque é difícil demais admitir que talvez o desconforto seja maior do que o impacto. Que talvez a experiência não tenha sido iluminadora, mas apenas exaustiva.

Bloomsday: Nem Jesus Cristo tem um dia no calendário. Leopold Bloom tem

Bloomsday: Nem Jesus Cristo tem um dia no calendário. Leopold Bloom tem

No centro da cidade antiga, as pedras respiram como se estivessem esperando alguém. Às vezes um silêncio denso se esgueira entre os prédios, como uma carta não enviada. A luz passa torta por cima das chaminés, resvala nos trilhos, nas vitrines embaciadas. Os passos ecoam, mas não seguem ninguém. Há uma mulher parada diante de um açougue fechado, ou talvez seja só uma lembrança mal encaixada. O ar tem gosto de tinta molhada e papel velho. É junho, e tudo está fora do lugar.

Lançamento: novo aplicativo revolucionário!

Lançamento: novo aplicativo revolucionário!

Hoje em dia, as pessoas vão andando pela rua olhando para o celular e digitando, sem olhar para frente. O perigo que isso acarreta é enorme. O problema não é o risco de a pessoa se viciar — isso já era, todo mundo já está devidamente viciado em celular. A questão é que, se a pessoa não tira os olhos do celular, pode, sem querer, dar de frente com um poste e se machucar bastante. Ou pior: pode quebrar o seu telefone celular! Portanto, o problema não são os posts — são os postes.