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Fantasia minimalista na Netflix transforma vampirismo em dilema moral desconfortante Divulgação / Art et essai

Fantasia minimalista na Netflix transforma vampirismo em dilema moral desconfortante

“Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário” é um daqueles filmes que assumem riscos formais e éticos sem pedir permissão ao espectador, construindo uma experiência que oscila entre o desconforto calculado e a ironia existencial. A narrativa apresenta uma vampira que se recusa a matar e um jovem que deseja morrer, colocando em colisão duas vontades que, ao se encontrarem, abalam qualquer leitura simplista sobre vida, morte e a responsabilidade que se assume quando se toca o limite do outro.

A fantasia caótica de Terry Gilliam com Damon e Ledger chega à Netflix para provar que contos de fadas nunca foram inocentes Divulgação / Dimension Films

A fantasia caótica de Terry Gilliam com Damon e Ledger chega à Netflix para provar que contos de fadas nunca foram inocentes

A floresta de um conto popular costuma ser tratada como um espaço simbólico, mas em certas narrativas ela se impõe como registro geopolítico involuntário, uma zona cinzenta onde impérios testam limites e indivíduos negociam a própria relevância. “Os Irmãos Grimm” mergulha exatamente nesse território, ainda que com a leveza colorida de um espetáculo de fantasia. O curioso é que, por trás do verniz de aventura, o filme expõe uma tensão que ressoa para além da tela: a tentativa de transformar fabulações ancestrais em mercadoria palatável, sem admitir que a própria natureza dessas histórias repele domesticações.

Guillermo del Toro reinventa clássico do terror gótico e entrega uma das experiências mais belas do cinema recente, na Netflix Ken Woroner / Netflix

Guillermo del Toro reinventa clássico do terror gótico e entrega uma das experiências mais belas do cinema recente, na Netflix

“Frankenstein”, de Guillermo del Toro, é uma tentativa grandiosa de devolver ao mito fundacional da literatura moderna o peso que a sucessão de adaptações diluiu. O cineasta parte de Mary Shelley não apenas para reconstruir uma narrativa sobre vida e morte, mas para propor uma reflexão sobre a própria natureza da criação, seja ela científica, artística ou moral. Há algo de inevitavelmente ambicioso nesse gesto: o que Shelley concebeu como tragédia romântica e crítica à arrogância humana, Del Toro traduz em espetáculo visual e sentimental, onde cada imagem busca não só fascinar, mas convencer o espectador de que o horror ainda pode carregar dignidade.

Suspense no Prime Video que incomoda — porque poderia ser você no lugar dela Divulgação / Blumhouse Productions

Suspense no Prime Video que incomoda — porque poderia ser você no lugar dela

“A Mulher no Jardim” estrutura seu suspense a partir de uma ameaça que se desloca entre o visível e o incompreensível. A trama se organiza sobre o cotidiano de uma família dilacerada por uma perda que não concede descanso. A protagonista é uma mulher que se move com dificuldade, física e emocionalmente, e encontra-se submetida a um ritual de sobrevivência que não garante nenhum alívio. A casa em que vive deveria oferecer abrigo, porém se transforma em zona de conflito entre a razão e aquilo que insiste em se aproximar pelo lado de fora.

A história real que virou o filme mais perturbador sobre possessão, na Netflix Divulgação / Screen Gems

A história real que virou o filme mais perturbador sobre possessão, na Netflix

“Livrai-nos do Mal” é um daqueles filmes que fingem ser apenas mais uma história de exorcismo, mas que, em silêncio, falam sobre algo mais profundo: o esgotamento moral e espiritual do homem contemporâneo. Sob a superfície de uma trama policial impregnada de sombras e salmos, o longa se revela uma meditação sobre a descrença, o medo e a falência da racionalidade como escudo contra o inominável.