Autor: Marcelo Franco

Admito: sou interno de um hospício

Escrevi, numa “Carpe Diem” anterior, sobre inícios clássicos de livros; hoje, como prometido, volto ao tema com outros incipit (meu jovem editor: sem variação no plural aqui, por favor). Não são exatamente “clássicos” de melhores começos de livros, mas sim, digamos, parte da minha lista maníaco-idiossincrática.

Orgia perpétua

Ali pelo oitavo chope, chegamos à conclusão de que todos os problemas eram insolúveis. Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Penso então em Dean Moriarty, penso no velho Dean Moriarty, o pai que jamais encontramos, penso em Dean Moriarty. Porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda chance sobre a terra. Ultima Thule. Eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta. Amava o Grande Irmão.

No princípio, Deus criou os livros

No princípio, Deus criou os livros

“No princípio, Deus criou os céus e a terra.” Em matéria de abertura, meus crentes leitores, a Bíblia continua imbatível: quem a escreveu tinha um poder de síntese magnífico — é o “Vim, vi, venci” dos inícios de livros. Os incipit (plural sem variação, caro corretor) — como são chamados esses inícios de livros — dão muitas vezes o tom do livro. Creio mesmo já ter lido que existe um jogo de adivinhação de autores a partir dos seus incipit — se non è vero, è ben trovato.

Leio, logo tusso (carpe diem)

Leio, logo tusso (carpe diem)

Não sou moreno alto, bonito e sensual, mas garanto a vocês que leio. Vivo entre livros e papéis e tenho a casa hoje totalmente colonizada por livros — para ler todos, rogo para que exista em mim o gene da longevidade de Matusalém. “Leio, ergo sum” é o meu moto, e a minha baleia branca será sempre o próximo livro a ser lido. Posso não entender o que leio, mas venho tentando.

Mississippi: eu, Faulkner e Jack Daniel’s

Leio e releio Faulkner constantemente, é faina para a vida toda. Se vocês não seguem essa dieta, estão perdendo um dos pontos altos da humanidade (Faulkner, aquedutos romanos, decisões da Suprema Corte americana, Capela Sistina, suítes de Bach para violoncelo, filmes de Sergio Leone, Ava Gardner, dribles do Garrincha, essas coisas): o homem vivia meio encharcado no seu estranho Deep South e ainda assim nos deixou uns três ou quatro romances que estão entre os melhores já escritos.