Autor: Helena Oliveira

O filme mais doce, bizarro e deliciosamente errado do catálogo da Netflix chegou Divulgação / MXN Entertainment

O filme mais doce, bizarro e deliciosamente errado do catálogo da Netflix chegou

O que mais me intriga em “Lisa Frankenstein“ é a tentativa obstinada de parecer inofensivo enquanto tudo ao redor pede o contrário. O filme pulsa com uma energia que suplica por excessos, mas mantém um freio que contraria sua própria natureza. A sensação é a de assistir a uma criatura fascinante, porém domesticada antes da hora. E, paradoxalmente, é justamente nessa contenção que o longa revela sua personalidade mais curiosa: ele funciona como uma carta de amor torta ao imaginário adolescente dos anos 80, só que escrita com a caligrafia de alguém que sabe que certas sombras não combinam com a classificação indicativa.

Dose generosa de pastelão com Steve Martin, na Netflix, que vai levantar qualquer astral Divulgação / Twentieth Century Fox

Dose generosa de pastelão com Steve Martin, na Netflix, que vai levantar qualquer astral

A sensação inicial ao rever “Doze é Demais” é a de reencontrar uma família que insiste em existir como um pequeno país soberano, governado por um casal que acredita ter domínio sobre fronteiras que nunca foram realmente suas. Tom Baker, vivido por Steve Martin, assume logo de cara o papel de comandante de uma nação em colapso iminente, tentando conciliar o cargo recém-ofertado de treinador de um time prestigioso com o funcionamento interno de uma casa onde doze crianças orbitam em velocidades distintas.

Esquecido nos cinemas, suspense com Russell Crowe renasce na Netflix e entrega muito mais do que promete Divulgação / Cutting Edge

Esquecido nos cinemas, suspense com Russell Crowe renasce na Netflix e entrega muito mais do que promete

A certa altura de “Zona de Risco”, fica impossível ignorar como o filme insiste em nos lembrar do abismo entre o que o público imagina ser uma operação militar e o que realmente sustenta a sobrevivência de uma equipe cercada por hostilidade. Esse contraste se torna ainda mais evidente quando o personagem Reaper, vivido por Russell Crowe, assume sua função como se estivesse lidando com algo muito mais frágil do que mapas térmicos ou coordenadas.

A comédia na Netflix que lembra que ninguém sai ileso da pré-adolescência Divulgação / Fox 2000 Pictures

A comédia na Netflix que lembra que ninguém sai ileso da pré-adolescência

A insistência de Greg Heffley em acreditar que o mundo lhe deve alguma forma de glória precoce sempre me soou como a síntese perfeita da ingenuidade cruel da pré-adolescência. Em “Diário de Um Banana”, Zachary Gordon encarna um garoto convencido de que a fila da vida começa justamente onde ele está, e que qualquer desvio, inclusive um amigo que não cabe no molde imaginário do sucesso, ameaça sua ascensão ao pódio invisível da popularidade do colégio.

Thriller frenético francês no Prime Video faz qualquer blockbuster americano parecer sonolento Divulgação / Canal+

Thriller frenético francês no Prime Video faz qualquer blockbuster americano parecer sonolento

O que mais me diverte em “B13 — 13º Distrito” é perceber como parte do público ainda insiste em exigir profundidade existencial de um filme que nunca prometeu nada além de pura impulsividade física. Há quem procure alegorias políticas onde só existe concreto, graxa e corpos atravessando o ar com uma convicção quase olímpica. A ironia é que, ao tentar encaixar densidade onde só impera velocidade, perdem justamente o prazer cru que o filme oferece, esse hedonismo urbano que não pede licença, apenas acelera.