Autor: Giancarlo Galdino

Sentimentos que julgávamos vitais a nossa sobrevida se abafam por si sós em relações que tínhamos como estrelas nos guiando num mar de tormenta e que se apagam sem se fazer notar. Essas condições tão particulares da vida após o idílio da meninice e da angústia sem fim da adolescência se convertem em armadilhas letais para homens e mulheres, como declara com picardia nada sutil “O Garoto da Casa ao Lado”, suspense com bem dosadas notas sensuais de Rob Cohen.

A memória prega suas peças em qualquer um, tantas que, em muitas circunstâncias, nem conseguimos mais saber o que é ou não verdade. “Lavender”, do canadense Ed Gass-Donnelly, explora o quanto pode a agonia de sua protagonista, uma mulher tomada por pensamentos que não controla e que a escravizam e, o pior, sobre cuja concretude ela sequer é capaz de se manifestar. Tudo embalado pelos recursos de que o cinema se vale para assentar seus pontos de vista.

Não raro, o terror e o ridículo andam lado a lado. Diretores de correntes as mais variadas ganham alguma proeminência com o terror, mas se estabelecem mesmo na carreira filmando enredos de outras naturezas e guardam por seus patinhos feios uma afeição latente, que acaba por trazê-los de volta ao ponto de partida. “Arraste-me para o Inferno” é uma declaração de amor de Sam Raimi ao gênero que o consagrou, e que continua a fazer muito bem.

O ator e diretor Terry Gilliam, famoso pela franquia satírica “Monty Python”, reaviva o espírito de Hunter S. Thompson (1937-2005), o pai do dito jornalismo gonzo, em “Medo e Delírio”, adaptação de “Medo e Delírio em Las Vegas”. Antes de qualquer outra coisa, o trabalho de Thompson e Gilliam são manifestos vivazes à liberdade de expressão e de imprensa, artigos que se tornam periodicamente raros em todo o mundo.

A maternidade parece mesmo um eterno drama, repleto de escolhas de Sofia — e até daquelas de Salomão —, muito mais para algumas mulheres que para outras, que se esclareça. Marnie Minervini assume sem pejo seu lado paranoico e não se importa em exceder limites, saudáveis em toda relação, como Lorene Scafaria explicita já no título de seu “A Intrometida”, retrato ora alegre, ora triste — mas sempre poético — de um vínculo cheio de particularidades.