Autor: Fernando Machado

Atuações geniais de Meryl Streep e Tommy Lee Jones em filme sobre a corrosão do amor e o vazio emocional, na Netflix Barry Wetche / GHS Productions

Atuações geniais de Meryl Streep e Tommy Lee Jones em filme sobre a corrosão do amor e o vazio emocional, na Netflix

Há filmes que erram na embalagem, mas acertam nas rachaduras da alma. “Um Divã para Dois” é um desses casos. Sob a aparência plastificada de uma comédia leve, embalada por canções genéricas e cores neutras que lembram do conforto estéril dos catálogos de streaming, se esconde um retrato inquietante — e por vezes doloroso — daquilo que se esfarela entre dois corpos que, há décadas, dividem a mesma cama sem realmente se tocarem.

Últimos dias na Netflix: o filme que transformou milhares de vidas está prestes a sair do catálogo Zade Rosenthal / Columbia Pictures

Últimos dias na Netflix: o filme que transformou milhares de vidas está prestes a sair do catálogo

Em “As Vinhas da Ira”, John Ford suavizou a brutalidade do texto de Steinbeck, substituindo a decomposição da família Joad por uma centelha de esperança que pudesse ser digerida sem amargor. Décadas depois, “À Procura da Felicidade” recorre a estrutura semelhante: em vez de se deter nas engrenagens que esmagam os vulneráveis, prefere contar a história de quem, por milagre de esforço e sorte, escapa.

Martin Scorsese convenceu Joe Pesci a retornar da aposentadoria para esse último filme, na Netflix Divulgação / Netflix

Martin Scorsese convenceu Joe Pesci a retornar da aposentadoria para esse último filme, na Netflix

Martin Scorsese, em “O Irlandês”, não apenas revisita o universo da máfia americana — ele o exuma. A câmera não é mais cúmplice da glória dos crimes, mas testemunha discreta de um passado que apodrece em silêncio. Aqui, o glamour antes associado à vida dos gângsteres se dissolve numa névoa de arrependimento, solidão e fim. Scorsese ergue uma elegia devastadora aos homens que confundiram lealdade com obediência cega, e poder com permanência.

Filme que fez as pessoas desmaiarem e vomitarem nos cinemas é também maior bilheteria de língua não inglesa da história, na Netflix Divulgação / Icon Productions

Filme que fez as pessoas desmaiarem e vomitarem nos cinemas é também maior bilheteria de língua não inglesa da história, na Netflix

Mel Gibson não filmou “A Paixão de Cristo” como quem deseja contar uma história — ele a esculpiu como quem escava uma ferida. A escolha de retratar, com obsessiva minúcia, os momentos finais da vida de Jesus vai bem além de um exercício devocional ou histórico. O filme não sugere empatia; exige confronto. Com o idioma original da época e uma câmera que se recusa a desviar o olhar da tortura, o longa expõe um corpo desfigurado como ícone da fé, rasgando o verniz estético que usualmente envolve narrativas religiosas e substituindo-o por carne aberta, ossos expostos e silêncio forçado.

Sequência de comédia romântica mais amada da literatura e do cinema no século 21 chega ao Prime Video, sob demanda Divulgação / Miramax

Sequência de comédia romântica mais amada da literatura e do cinema no século 21 chega ao Prime Video, sob demanda

Há personagens que envelhecem conosco — não por mera continuidade cronológica, mas porque suas falhas, conquistas e silêncios passam a refletir aquilo que evitamos encarar em nós mesmos. Bridget Jones, outrora símbolo hilário da mulher solteira em tempos de expectativas românticas irrealistas, retorna não para reafirmar sua graça cômica, mas para nos lembrar de que o riso também pode nascer no território cinzento da perda.