Autor: Eberth Vêncio

Cair mata. Cuidem bem de seus velhinhos

Cair mata. Cuidem bem de seus velhinhos

Mamãe reconhece que fez estripulia ao subir numa escada íngreme carregando um peso desnecessário. Poderia ter sucedido uma tragédia, é verdade. Acontece. Acontece muito. É que a gente não conhece as estatísticas sobre os acidentes domésticos fatais. Quedas bobas. Um escorregão no chuveiro. Um tapete que enrosca nos pés. Sandálias traiçoeiras. Um tropicão noturno, ao ir até o banheiro para aliviar a bexiga. Cuidem bem dos seus velhinhos.

O meu passado de atleta me credencia a morrer dormindo

O meu passado de atleta me credencia a morrer dormindo

Eu queria morrer dormindo. Impávido. Sem culpa. E ser encontrado pela diarista de coluna torta, a segurar o frasco de Diabo Verde numa mão e o escovão na outra. Maria. Sempre uma Maria na vida da gente, pedindo licença para entrar na suíte do casal e botar pra quebrar. Queria ser pego com um sorriso enigmático no rosto, paralítico, nem alegre, nem triste, de quem deixou a vida para entrar para a história.

O problema não é o Centrão e o Congresso Nacional. O problema são os eleitores

O problema não é o Centrão e o Congresso Nacional. O problema são os eleitores

Carece deixar de dizer que política não presta e que os políticos são todos iguais, porque eles não são. O problema do Brasil é o brasileiro. O cidadão ufanista que enche a boca para declarar que odeia política, contudo, nunca mais leu um livro desde que saiu do colégio. O problema é aquele transgressor contumaz de normas e regulamentos que denomina fiscalização de trânsito como “indústria da multa”. É o indivíduo que sempre arruma o jeito certo de fazer a coisa errada.

Faça o amor grande de novo

Faça o amor grande de novo

Há encontros que não prometem nada, mas entregam tudo: um pouco de silêncio, uma lasca de compaixão, a memória de um tempo em que conversar ainda era gesto íntimo. Na lanchonete esquecida por Deus e pela prefeitura, um ginecologista cansado e um velho bancário soropositivo trocam banalidades — e verdades duras. Entre esfirras, retrovirais e mocotós alheios, a crônica revela o que ainda resta quando a cidade apodrece: escuta, humor, alguma ternura e o estranho consolo de saber que, por um instante, alguém viu.

NA-NA-NA-NA-NA-NA-NA

NA-NA-NA-NA-NA-NA-NA

Chamar Paul McCartney de velho seria um insulto à própria velhice. A mocidade apegou-se a ele desde os primórdios da beatlemania até os dias atuais, quando continua a subir no palco para testar os limites físicos de suas cordas vocais enrijecidas pelo tempo. Desafinar todo mundo desafina. Não vão querer exigir afinação perfeita de um homem de 83 anos de idade. Há, contudo, que se desafinar com elegância. Desafiar o tempo. Destilar o amor sob olhares de contentamento. Amor é troca. Amor é via de mão dupla.