Autor: Eberth Vêncio

Nossa lingerie jamais será vermelha

Nossa lingerie jamais será vermelha

Não que esse pessoal da esquerda não goste de um animado clima de prostíbulo, mas, o que tinha de patriota dentro daquele bordel era uma verdadeira festa. Alguns tinham acabado de chegar da capital federal, onde invadiram, pilharam e depredaram palácios. Até o pai de família que houvera defecado sobre o brasão da república durante a diarreica insurreição dos golpistas — em nome de Deus e da família — estava presente no local.

Anotai as metas para o ano novo nas pétalas de uma rosa

Anotai as metas para o ano novo nas pétalas de uma rosa

Reza assim o meu canteiro, ainda a ser cultivado — se tudo correr bem, será por mim beatificado: Metas para o ano que se inicia. Salvar um leão por dia. Matar a saudade com requintes de humanismo. Nadar, nadar, nadar e renascer numa praia, como um homem livre. Ler um livro de poesia por mês. Entregar amor no atacado. Comer o pão que a vovó amassou. Afundar uma nova igreja, com as bênçãos de Deus. Deificar o sol, num rompante saudosista; vê-lo nascer quadrado na janela do quarto da moça que ressona ao meu lado. Morrermos felizes para sempre, como o trema

Feliz natal, estranho

Feliz natal, estranho

Doutor Elias era um médico popular viciado em livros de romance e em emergências. Certa feita, durante um plantão no dia de Natal, caminhava pelo corredor apinhado de gente quando parou para conferir mais uma vez a respiração de um grandalhão que aguardava a sua vez para fazer radiografias. Ossos quebrados, sabem como é. Enquanto checava o moribundo embriagado que dormitava, a despeito da leva de costelas partidas, foi interceptado por uma criança que puxou o seu jaleco pela parte detrás.