Autor: Carlos Augusto Silva

Auto-de-Fé: a sublime tragédia e o fogo da alma de Elias Canetti

Auto-de-Fé: a sublime tragédia e o fogo da alma de Elias Canetti

A obra mergulha nas profundezas da psique humana, explorando obsessões, loucura e a desconexão entre intelecto e realidade. Em uma narrativa densa e inquietante, acompanhamos a gradual desintegração de um homem consumido por suas próprias fixações. A linguagem precisa e os diálogos afiados revelam as contradições dos personagens, enquanto o simbolismo e o grotesco expõem as deformações da mente e da sociedade moderna. Estrutura e estilo se entrelaçam para criar uma experiência literária perturbadora, que desafia as convenções narrativas e emociona pelo desconforto que provoca.

Os Demônios como exorcismo literário: Dostoiévski entre o abismo e a profecia

Os Demônios como exorcismo literário: Dostoiévski entre o abismo e a profecia

Dostoiévski não escreveu apenas romances — escreveu abismos. Sua literatura antecipa os colapsos morais e políticos que moldaram os séculos seguintes. Ao criar personagens possuídos por ideias, ele não dramatiza o indivíduo, mas disseca os vírus da modernidade: o niilismo, o fanatismo, a fé deformada, a razão corrompida. Não há heróis, há vozes em ruína. E ao invés de redenção, o que se oferece é ruído, vertigem, revelação. Neste ensaio, atravessamos a escrita como quem cruza um incêndio espiritual. Porque às vezes é preciso contemplar o mal de perto para entender de onde virá — e como reconhecer.

Fahrenheit 451: Bradbury, Cioran e a última fagulha na Avenida Paulista

Fahrenheit 451: Bradbury, Cioran e a última fagulha na Avenida Paulista

Numa era em que tudo convida à distração, pensar tornou-se um gesto insubordinado. Este ensaio percorre as camadas de uma distopia elegante, onde o silêncio foi abolido e a memória, dissolvida. Entre personagens que hesitam, lembram, se curvam ou resistem, emerge a suspeita incômoda de que o maior inimigo da consciência não é a repressão violenta — é a renúncia voluntária. Escrito com fulgor crítico e eco filosófico, o texto propõe uma leitura radical do presente, em que esquecer é fácil demais, e lembrar exige coragem. Há livros que ferem. Outros que despertam. E há os que, como este, fazem os dois.

Faulkner: a beleza brutal de Enquanto Agonizo — minha mãe é um peixe… e fede

Faulkner: a beleza brutal de Enquanto Agonizo — minha mãe é um peixe… e fede

Um corte profundo na tradição narrativa expõe a dor em estado bruto, sem linha reta para guiá-la; cada voz de uma mesma família fala um idioma próprio, fraturado, como quem tenta costurar o luto com as mãos nuas, até que uma simples frase infantil escancara a falência da linguagem adulta e rasga o céu da metáfora. O tempo gira em espiral, a consciência tropeça, e a travessia pelos caminhos enlameados converte-se num ritual de decomposição em que urubus, lama e correnteza competem com o esforço humano de preservar a dignidade de um corpo que já se desfaz.

Vargas Llosa está morto: e a infantilidade da intelectualidade brasileira quer enterrá-lo

Vargas Llosa está morto: e a infantilidade da intelectualidade brasileira quer enterrá-lo

Morreu o escritor. Mas, no Brasil, parte da reação não foi luto nem leitura — foi histeria. Em vez de refletir sobre a obra, muitos correram a julgar o homem, como se a literatura de um Nobel pudesse ser reduzida a manchetes de rede social. Vargas Llosa incomoda. Não só pelo que escreveu, mas pelo que ousou pensar. E a incapacidade de lidar com essa complexidade revela mais sobre nós do que sobre ele. Este texto é uma defesa da literatura como campo de liberdade — e uma crítica à infantilização do debate cultural.