Autor: André J. Gomes

E depois das eleições, pra onde vai tanto ódio?

E depois das eleições, pra onde vai tanto ódio?

É claro que você está certo. O país está prestes a eleger um presidente, nós corremos o risco de fazer o que você chama de “a escolha errada”, os ladrões estão a nos fazer de trouxas e eu aqui, falando de amor? Não, isso não pode ser. Você tem razão, eu reconheço. Pronto, deixei meu discurso amoroso de lado, esperando. Já posso refletir sobre as coisas que você me disse. Sim, o seu candidato deve ser mesmo bem melhor do que o meu. Compreendo seus argumentos, entendo todos os seus pontos de vista e, prometo, vou pensar honestamente em aprender matemática depois de você me mostrar o óbvio: eu não sei fazer contas!

Cartinha preguiçosa para um feliz dia das crianças

Cartinha preguiçosa para um feliz dia das crianças

Viva! Hoje você e eu vamos passar o dia das crianças juntos. Podia ser na disneylândia, na praia, num circo de malabaristas lindas e ar-condicionado novo. Mas vai ser aqui mesmo, neste canto quente do mundo de onde eu saio toda manhã e para onde volto toda noite. Aqui na “casa do pai”, que é uma das duas casas que você tem hoje e só uma das tantas que haverá de habitar na vida.

Da arriscada e deliciosa arte de provocar um cretino

Da arriscada e deliciosa arte de provocar um cretino

Um dia, desses dias definitivos na vida de toda gente, um homem ordinário olhou para os lados e se viu cercado de idiotas. Era isso. Estavam explicados a sua insônia, sua falta de apetite, sua impotência sexual, sua raiva do mundo, sua apatia no trabalho. Ele acabara de descobrir a causa de suas mazelas. O mundo lhe fazia mal porque estava povoado de imbecis. Pronto. Essa era a sua doença, ele estava diagnosticado! Agora só faltava iniciar um tratamento radical: daquele dia em diante, o homem dedicou seu tempo a catalogar e punir os patetas que encontrasse vida afora.

Sorria. Nós estamos todos presos

Sorria. Nós estamos todos presos

Olha, cá entre nós, aqui nesse lugar somos todos prisioneiros. Todos. Cada um do seu jeito, estamos presos, amarrados, atados de alguma sorte. Enrolados de formas diferentes, mas todos, todos atrelados a suas próprias escolhas. Pode reparar. Há os cativos de suas lembranças. Os detentos de suas saudades. Os que se deixam aprisionar por seus planos futuros e expectativas, os escravizados por seus medos, suas vontades e seus desejos. Os acorrentados a seus preconceitos e ideias fixas. Mas todos, todos estamos enlaçados. Alguns à espera, outros em busca. Parados ou em franco movimento, seguimos todos em prisão perpétua.

Para onde vão os idiotas quando chegam ao topo

Para onde vão os idiotas quando chegam ao topo

A noite já era feita lá fora e o homem ali, passeando por dentro. Lembrou de seus sacrifícios todos. Suas horas sem dormir, sua sede e sua fome não atendidas. Recordou os cachorros quentes consumidos às pressas, ele nunca esqueceu o quanto é bom um cachorro quente barato. Sentiu até o gosto do molho de tomate, a salsicha saborosa, o tempero forte, a maionese. De suas certezas todas, a de que às vezes só um cachorro quente pode salvar a sua vida persistiu. Não fosse agora um rico frequentador de caros restaurantes, jantaria um senhor cachorro quente na calçada lá embaixo.