Autor: André J. Gomes

É agora que o jogo recomeça. E eu torço é por nós

É agora que o jogo recomeça. E eu torço é por nós

Pronto. Acabou. Lá se foram as eleições que tanto chacoalharam os nossos ânimos. Terminou o embate, passou a pendenga. Já podemos guardar as armas, enrolar as bandeiras, recolher as unhas. Respirar fundo e seguir em frente. Venceu a vontade da maioria. Esta foi, sem dúvida, das eleições presidenciais mais disputadas da história. E para além de qualquer preferência, a escolha de sair e celebrar ou sentar e reclamar é nossa. Eu acho, honestamente, que essa é a escolha mais importante que temos a fazer agora.

Viver é aceitar. Aceite

Viver é aceitar. Aceite

Que venha. Seja lá o que for, venha. A gente aceita. Encara, luta, cai, levanta, vai em frente. Aceita o que foi, o que é e o que vem. Não, nós não somos permissivos, acomodados, medrosos, trouxas. Nós somos gente. E a gente aceita. Aceita até mesmo quando rejeita, recusa, esperneia, grita. A gente aceita o inaceitável em conclusão íntima. O teto desaba, o assoalho rompe, as paredes apertam. E a gente aceita.

A gratidão é uma flor sentida, delicada e bela

A gratidão é uma flor sentida, delicada e bela

Numa cidade do interior, dessas que existem para além do tempo, para dentro de uma lembrança, uma cidadela entre o nada e o lugar nenhum, recanto de meia dúzia de vidas onde a beleza mora nas coisas minúsculas e nos gestos simples, uma vila onde a vida se passa no chão, sob as árvores, junto aos bichos e às plantas, ali vive um homem agradecido. É bom você não esperar muito dele. Não é pessoa de tantas habilidades, não foi capaz de grandes feitos, não realizou amplas obras agrícolas, não construiu famílias centenárias nem inventou mecanismos revolucionários de aproveitamento da água da chuva. É só um homem comum, mas guarda no peito uma rara gratidão.

No fundo, nossa única certeza é a de que estamos na dúvida

No fundo, nossa única certeza é a de que estamos na dúvida

Pode reparar. Por mais que tenhamos crescido, por mais que o tempo nos leve longe e os anos passem varrendo lembranças, distorcendo fatos antigos, apagando rostos e imagens como em velhas fotografias, por mais que aprendamos a ser adultos no comando seguro de cada passo, há sempre um medo infantil que nos resta. Sempre um monstro esperando debaixo da cama, desafiando com olhos de fogo e coração pequeno nossa coragem de gente grande. Vistos assim, você e eu e todos aqui somos iguais.

E depois das eleições, pra onde vai tanto ódio?

E depois das eleições, pra onde vai tanto ódio?

É claro que você está certo. O país está prestes a eleger um presidente, nós corremos o risco de fazer o que você chama de “a escolha errada”, os ladrões estão a nos fazer de trouxas e eu aqui, falando de amor? Não, isso não pode ser. Você tem razão, eu reconheço. Pronto, deixei meu discurso amoroso de lado, esperando. Já posso refletir sobre as coisas que você me disse. Sim, o seu candidato deve ser mesmo bem melhor do que o meu. Compreendo seus argumentos, entendo todos os seus pontos de vista e, prometo, vou pensar honestamente em aprender matemática depois de você me mostrar o óbvio: eu não sei fazer contas!