Autor: André J. Gomes

Ato de apoio a uma ampla, geral e irrestrita intervenção amorosa

Ato de apoio a uma ampla, geral e irrestrita intervenção amorosa

Alto lá! Mas que fechar o congresso, o quê? Que história é essa de uso da força? De onde vem essa maldosa fantasia de acender o fogo das tropas e clamar poder aos batalhões? Parem com isso! Nossa necessidade é outra. Nós precisamos é de uma urgente, total e irrestrita intervenção amorosa! Cessem o fogo das farpas! É tempo de descansar os pés dessa marcha violenta rumo a nada! Afinal, o que estamos fazendo senão lutando contra nós mesmos?

Vem, vamos voar daqui. Lá do alto dá pra ver como somos pequenos

Vem, vamos voar daqui. Lá do alto dá pra ver como somos pequenos

Ah… pessoa amiga, essa vida tem de tudo. Tem risos e choros, brigas e tréguas, achados e perdidos, secos e molhados. Tem quem ganha e tem quem perde, quem encontra e desencontra. Tem tanto medo provocando nossas coragens! Tanta dúvida, tanto “só Deus sabe”, tanto Amém para pouca reza. E entre tudo isso estamos nós, caminhando nossos altos e baixos, na vida que tem mesmo de tudo um pouco. Mas é certo que, de quando em vez, esse pouco vira muito ou, no mínimo, mais do que a gente aguenta.

Senta aqui. Eu preciso desabafar com você

Senta aqui. Eu preciso desabafar com você

Olha, tá pesado pra mim. Você me desculpa, mas eu preciso falar. Você mudou demais. Mas não é “mudou”, “mudou”, assim, como todo mundo muda. Você mudou para além da conta. Eu sei, as pessoas se modificam mesmo. Mas você caprichou, hein? É claro que eu não estou me referindo ao fato de você estar muito acima do peso. Não! Isso acontece. Tá bom, eu confesso que não gosto nada desse negócio de você cochilar quando a gente vê televisão. É chato, sim. Você dorme, ronca, baba. Mas vá lá. O que eu não suporto mesmo vai muito além de tudo isso.

Velhas saudades têm sempre uma nova esperança

Velhas saudades têm sempre uma nova esperança

Um dia acontece. Você acorda, abre a janela e encontra um tempo feio como bronca de filho em mãe, triste, dia de ser só. O céu cor de chumbo é um longo e imenso desamparo, a rua está úmida, mais vazia que a primeira tarde depois do fim do mundo, e você tem um desejo dolorido de voltar à cama, ao convívio das cobertas, ao escuro silencioso da madrugada, ao útero materno.

O amor segundo os cavalos

O amor segundo os cavalos

Aconteceu de manhã, depois de uma noite inteira de chuva, quando toda gente botava a cara de novo na rua para ganhar a vida. Em algum canto escondido do planeta, um homem poderoso e aborrecido com o sinal ruim de sua TV a cabo decidiu dar cabo de tudo: entrou no quartel general a que só ele e outra meia dúzia de deuses tinham acesso e apertou o botão da bomba mais avassaladora já construída. Em questão de segundos, um vírus criado em laboratório a partir do DNA dos quadrúpedes ganhou a atmosfera e envolveu toda a extensão do planeta. Nós, os tão especiais seres humanos, caímos doentes, arrebatados pela névoa sinistra, mergulhados em profundo sono de morte.