A trajetória humana é marcada por transformações contínuas, principalmente no que tange à relação com a tecnologia, que nos últimos 25 anos tem reformulado nosso modo de viver. É fascinante perceber como certos indivíduos desenvolvem uma dependência peculiar em relação aos seus dispositivos eletrônicos. É essa peculiaridade que o cineasta espanhol Santiago Requejo aborda em “Não Posso Viver sem Você”, uma comédia que, embora leve, convida à reflexão sobre os altos e baixos da vida digital.
Requejo, atento observador das mudanças sociais que nos afetam, explora a inescapável presença dos celulares sob a perspectiva de um executivo incapaz de se desconectar, resultando em uma série de problemas relacionados ao uso excessivo da tecnologia. Esses problemas são comumente associados ao que a ciência define como nomofobia, o medo irracional de ficar sem acesso aos dispositivos móveis. Com um roteiro coescrito por Requejo e José Gabriel Lorenzo, a narrativa transita entre diferentes situações que revelam a crescente neurose do protagonista, culminando em um final que sugere uma solução esperançosa.
Carlos, o protagonista vivido por Adrián Suar, retrata com precisão a combinação de humor e drama necessária para ilustrar o comportamento maníaco que emerge quando a simples ideia de perder o celular desencadeia crises de ansiedade. Sua esposa, Adela, deseja realizar uma viagem romântica agora que os filhos estão estudando fora, mas Carlos nunca está disponível. Ele está sempre preso às demandas de seu chefe, Alejandro, interpretado por Ramón Barea, e na correria diária, encontra a solução mágica: o Daiafon 17, um dispositivo nanotecnológico que promete substituir todos os gadgets antigos.
Contudo, como era de se esperar, essa dependência tecnológica leva Carlos a sacrificar seus relacionamentos pessoais, culminando no fim de seu casamento e na necessidade de procurar ajuda em um grupo de terapia para viciados em tecnologia. É lá que ele encontra sua última chance de recuperar a vida que perdeu. Requejo conecta essas fases com destreza, assim como Paz Vega, que entrega uma atuação convincente. O desfecho, em um encontro na Cafeteria Lumière, nos sugere que, talvez, seja possível viver sem os aparelhos eletrônicos, pelo menos nos momentos de maior felicidade.
Filme: Não Posso Viver sem Você
Direção: Santiago Requejo
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10