Últimos dias para assistir ao suspense policial com Keanu Reeves, na Netflix Divulgação / Searchlight Pictures

Últimos dias para assistir ao suspense policial com Keanu Reeves, na Netflix

Se considerarmos as ideias existencialistas de Sartre e Beauvoir, que ressaltam a importância do contexto social sobre a natureza humana, Tom Ludlow se encaixaria como um exemplo notável dessa teoria.

No filme “Os Reis da Rua”, interpretado por Keanu Reeves, Ludlow é um agente do Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD) que, apesar de sua tentativa de se desvincular da imagem de um dos policiais mais impiedosos da instituição, acaba sendo enredado em uma trama complexa e traiçoeira que põe em risco sua carreira e sua vida pessoal.

David Ayer, conhecido por sua habilidade em criar narrativas intensas que exploram o lado sombrio dos personagens, apresenta um filme que, embora repleto de ação e tensão, não escapa das falhas do roteiro, elaborado por James Ellroy em colaboração com Jamie Moss e Kurt Wimmer.

O roteiro de Ellroy, baseado em elementos de suas obras mais conhecidas, como “L.A. Confidential” e “Dália Negra”, traz à tona uma história que depende fortemente do carisma de Reeves e da abordagem visual de Ayer. Contudo, o filme, com uma efetividade que pode ser considerada em torno de 70%, não consegue evitar as inconsistências que comprometem seu impacto.

A artificialidade permeia o desenvolvimento dos personagens, principalmente o de Ludlow. Keanu Reeves tenta conferir profundidade a seu personagem, mas o retrato de um anti-herói que, ao acordar, imediatamente empunha sua arma e só depois realiza suas rotinas matinais, é um exemplo de como a banalidade do personagem pode ser exagerada.

Este é um dos momentos em que o espectador pode vislumbrar mais claramente as características superficiais do investigador, que parece vagar em um mundo que não oferece proteção ao seu destino sombrio. As cenas noturnas em Koreatown, onde Ludlow se mistura a ambientes perigosos e adota um comportamento agressivo e racista, contrastam com a imagem de um homem que deveria representar algo além do estereótipo do policial desajustado.

O filme também destaca a dicotomia entre Ludlow e Terrence Washington, interpretado por Terry Crews. Enquanto Ludlow encarna uma figura de complexidade moral questionável, Washington representa a integridade e o orgulho racial, contrastando fortemente com a postura de Ludlow.

Essa oposição ressalta um subtexto de crítica social, onde Ludlow, inadvertidamente ou não, assume um papel que pode ser visto como defensor de ideais prejudiciais, revelando uma ironia amarga na dinâmica entre os dois personagens.

No entanto, a trama central do assassinato de um policial, que coloca Ludlow como o principal suspeito, é ofuscada pelas tentativas de Ayer de alinhar a narrativa às passagens dos livros de Ellroy, resultando em uma experiência que, embora repleta de intenções, perde coesão.

O elenco de apoio, que inclui nomes como Forest Whitaker, Hugh Laurie, Chris Evans e Jaime FitzSimons, não consegue compensar as lacunas do roteiro, contribuindo para uma sensação de subaproveitamento dos talentos envolvidos.

Ao final dos 109 minutos, “Os Reis da Rua”, na Netflix, se revela uma experiência metalinguística que faz acenos a filmes como “007” e “Duro de Matar”, mas sem a profundidade e complexidade que esses filmes oferecem. O resultado é uma obra que, apesar de suas ambições e momentos de intensidade, não consegue superar suas próprias limitações.


Filme: Os Reis da Rua
Direção: David Ayer
Ano: 2008
Gêneros: Thriller/Drama/Crime/Ação
Nota: 7/10