Comparado com John Wick, um dos melhores filmes de ação da década está na Netflix Divulgação / Eighty Two Films

Comparado com John Wick, um dos melhores filmes de ação da década está na Netflix

Os desafios cotidianos muitas vezes exigem uma postura de distanciamento, uma capacidade de desapegar-se das trivialidades da vida. Indivíduos comuns, preparados para enfrentar a rotina meticulosamente, ocasionalmente se veem diante de reviravoltas imprevistas. Mesmo cientes de que a normalidade pode ser restaurada rapidamente, optam por manter a integridade de seu ser, em uma cautela que, em certos momentos, pode parecer uma maldição disfarçada.

“Anônimo” retrata essa dinâmica com maestria, narrando a história de um indivíduo cuja vida tranquila é abruptamente alterada por um evento inesperado. O filme, com sua abordagem sutil e intensa, mantém a tensão sem nunca deixá-la escapar, dançando delicadamente entre a violência e a calma.

O enredo gira em torno do protagonista, cuja vida é apresentada de forma instável e intrigante. O diretor Ilya Naishuller entrelaça habilmente cenas que revelam diferentes facetas do personagem principal, mostrando um homem que antes parecia ordinário, mas agora se vê em uma encruzilhada existencial. Este momento de crise funciona como um portal, um rito de passagem que o transporta para longe da vida que antes levava com orgulho. Uma das joias do filme é a atuação de Bob Odenkirk, cuja performance é quase impecável.

O roteiro de Derek Kolstad transforma habilmente um comediante reconhecido em um ator capaz de transitar entre a comédia e a tragédia com rara destreza. Odenkirk, em um papel cheio de nuances, evoca lembranças de Liam Neeson em seus papéis mais envolventes. No entanto, ao contrário da abordagem explosiva de Neeson em filmes como “Busca Implacável” e “A Chamada”, Odenkirk oferece uma interpretação mais contida, porém igualmente intensa, marcada por uma frieza calculada.

Hutch Mansell, o protagonista, é um homem de hábitos. O filme começa apresentando a rotina monótona de Hutch, mostrando sua manhã com a esposa Becca e os filhos Brady e Sammy, interpretados por Gage Munroe e Paisley Cadorath. Ele veste suéteres escuros, segue o mesmo caminho para o trabalho, observa a tranquilidade da cidade e corre atrás do caminhão de lixo, que nunca espera por ele.

Embora Naishuller sugira problemas no casamento de Hutch e Becca, com Connie Nielsen desenvolvendo uma personagem amargurada, o foco permanece na ação que impulsiona a narrativa. Um evento transformador ocorre quando um casal de ladrões invade a casa dos Mansell. Hutch, enfrentando um dilema moral, decide não reagir violentamente, um momento capturado com iluminação que sugere eventos paralelos e iminentes.

O filme explora então o desconforto crescente da família Mansell, culminando em Hutch sendo forçado a agir quando percebe que algo importante para Sammy pode estar entre as notas roubadas. Este é o catalisador para uma série de dilemas morais e confrontos físicos, destacando o passado de Hutch como agente do FBI. Odenkirk brilha nessas cenas, equilibrando perfeitamente a violência e a humanidade de seu personagem. O clímax desses confrontos ocorre quando Hutch inadvertidamente deixa o filho de um mafioso russo entre a vida e a morte, um ponto de inflexão na história habilmente executado pelo ator.


Filme: Anônimo 
Direção: Ilya Naishuller
Ano: 2021
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 9/10