A comédia romântica que 50 milhões de pessoas já assistiram é atualmente o filme mais visto da Netflix no mundo Divulgação / Netflix

A comédia romântica que 50 milhões de pessoas já assistiram é atualmente o filme mais visto da Netflix no mundo

A indústria cinematográfica dos países árabes tem se revelado uma potência quase unânime. Goste-se ou não de seus filmes, essas produções revelam facetas um tanto misteriosas de sociedades que primam por seus hábitos, histórias que não raro chegam ao Ocidente eivadas de uma dose mortal do preconceito mais venenoso, despropósito cada vez mais irrefletido já que também nelas — sobretudo entre as camadas mais jovens — observa-se a mesma ânsia por fazer parte, os sonhos são praticamente os mesmos e a vontade de autoafirmar-se não cessa diante da força da tradição. Um casal que se une em circunstâncias adversas se vê às voltas com descobertas nada banais em “Lua de Mel Inusitada”, a comédia romântica do libanês Elie El Semaan rodada no Kuwait, o que por si só já é um sinal da capacidade de persuasão do diretor, que faz seu trabalho rodar mundo graças ao alcance das plataformas de streaming. Estreando pela Netflix, “Lua de Mel Inusitada” conta com dois atores tarimbados, o que ajuda muito para que espectadores do mundo todo se interessem pelo roteiro de Eiah Saleh e esperem cem minutos pelo final previsível, e, claro, feliz.

Noor, uma instrutora de academia há muito comprometida com um namorado reticente ao casamento, parece estar perto de ouvir a pergunta com que tem sonhado há anos. Hamad, o número dois por trás de uma holding de empresas com braços em todo o Golfo Pérsico, tenta, por sua vez, se livrar da influência e da subjugação do dono da companhia, ninguém menos que seu pai. Se o namoro de Noor malogra de vez, porque o companheiro é forçado a se casar-se com outra, o martírio de Hamad é justamente o inverso: ele tem de arranjar uma esposa caso queira ter a chance de vir a comandar os negócios da família num futuro próximo. 

Saleh amarra os dois eventos mais importantes do longa cada qual com seu justo destaque, e Samaan traduz essa birra do destino nas cenas em que os personagens de Nour Al Ghandour e Mahmoud Boushahri lutam com as armas de que dispõem para ter o mínimo de controle sobre a própria vida. A certa altura, as paisagens do Kuwait e do Líbano amenizam a tepidez do enredo batido, ainda que o carisma de Ghandour e Boushahri também se imponha. No mais, “Lua de Mel Inusitada” serve para ratificar a tendência do novíssimo cinema do Oriente Médio quanto a igualar-se com tramas em algum grau pasteurizadas, alinhadas a padrões ocidentais de beleza — mormente a feminina, pelo que se vê na atriz principal — e uma defesa meio envergonhada de liberdades como o consumo de álcool, sem que se toque em assuntos espinhosos, a exemplo de democracia ou imprensa livre. 


Filme: Lua de Mel Inusitada
Direção: Elie El Samaan
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Romance 
Nota: 7/10