Indicada ao Oscar, à Palma de Ouro e vencedora do Festival de Cannes, obra-prima do cinema europeu está na Netflix Divulgação / Protagonist Pictures

Indicada ao Oscar, à Palma de Ouro e vencedora do Festival de Cannes, obra-prima do cinema europeu está na Netflix

Yorgos Lanthimos tem uma fascinação particular por personagens, cenários e enredos que se destacam pela sua singularidade e estranheza. Seu filme “O Lagosta” é uma exploração audaciosa dos desejos ocultos e das complexidades das interações sociais humanas, questionando a arbitrariedade de nossas escolhas e o impacto delas na nossa integração na sociedade.

Este tema já era perceptível em trabalhos anteriores de Lanthimos, como “Dente Canino”, que retrata a rebelião de três jovens contra a autoridade repressiva dos pais, e “Alpes”, que mergulha na negação da morte. Essa linha de investigação continua em “O Sacrifício do Cervo Sagrado” e “A Favorita”, este último uma sátira mordaz aos rituais sociais da Inglaterra do início do século 18, marcada por pequenas batalhas de poder e pela busca do afeto de uma rainha.

Lanthimos e Efthimis Filippou, seu colaborador frequente, adotam uma abordagem sutil e rica em nuances para criticar uma sociedade obcecada por aparências e sentimentos superficiais, um dilema que transforma a narrativa em uma viagem introspectiva através dos medos e desejos mais profundos de cada personagem.

No filme, solteiros enfrentam um ultimato surreal: encontrar um parceiro em 45 dias ou ser transformado em um animal e enviado para uma floresta misteriosa. Este cenário bizarro se desenrola em um hotel localizado em uma montanha isolada, evocando a atmosfera sombria dos romances de formação clássicos, mas com um toque de cinismo.

Os hóspedes, despojados de suas posses e individualidade, vestem uniformes padronizados e esperam encontrar alguém que os salve de um destino peculiar. A escolha do personagem de Colin Farrell, David, de se tornar uma lagosta por suas características únicas, reflete um anseio por distinção e imortalidade, mesmo em circunstâncias absurdas.

À medida que a história avança, a narrativa se aprofunda na potencial nova vida de David como lagosta, alternando com momentos em que a personagem de Rachel Weisz oferece insights sobre essa jornada singular. Apesar de alguns momentos arrastados, a história é enriquecida por performances memoráveis de John C. Reilly, Ben Whishaw e uma atuação secundária notável de Olivia Colman como a gerente do hotel. O clímax, no qual David finalmente toma as rédeas de seu destino, atenua qualquer estranhamento anterior com uma resolução convincente e impactante.


Filme: O Lagosta
Direção: Yorgos Lanthimos
Ano: 2015
Gêneros: Romance, Comédia, Drama
Avaliação: 8/10