O tempo passa, a vida revela o turbilhão de angústias com que nos aprisiona e chega o dia, mais cedo para uns do que para outros, em que nos damos conta de nossa inescapável solidão. Não é que depois de certa idade viramos feras amargas que só encontram sossego no breu de seus tugúrios, mas fica nitidamente mais difícil lidar com os problemas sempre tão complexos de quem nos rodeia, uma vez que nossas próprias questões não dão refresco. A sul-africana Stephina Zwane penetra o mundo cinzento dos adultos — por mais cor-de-rosa que eles o pintem — e em “Amor, Sexo e 30 Velinhas” enumera parte da imensurável lista de obstáculos com que todos nos deparamos a partir da terceira década sob o sol, pouco antes ou pouco depois. Esse título aparentemente muito cartesiano oculta a história cheia de encantadoras minudências iluminadas pelo texto de Zwane, Zoë Laband e Angela Makholwa, autora do badalado romance “30th Candle” (“a trigésima vela”, em tradução literal e sem edição em português), a partir do qual o filme recebe uma adaptação sensível e vigorosa.
Nolwazi, uma estilista de cabelo azul e roupão verde faz um teste de gravidez no banheiro. Quando se certifica do resultado, é tomada pelas emoções veementemente contraditórias da descoberta, que a diretora cozinha o quanto pode, cuidando para que nunca respingue nos demais personagens. Bahumi Madisakwane, a grande revelação da South African Broadcasting Corporation (SABC), a holding de emissoras públicas da África do Sul, devolve tudo quanto investem nela num papel marcado pelas nuanças de temperamento e pela variedade de situações que cercam-na, engole a novidade em seco e continua a viver como se nada houvesse, poupando as amigas dos aborrecimentos que julga só seus. Pouco depois, entra em cena Linda, que ao termo de horas de prazer com o noivo, acabando concluindo que não o ama tanto assim, pelo menos a ponto de subir ao altar com ele. Candice Modiselle oferece um bom contraponto ao universo colorido, mas melancólico de Nolwazi, cuja carreira outrora em ascensão principia a envergar por causa de seu segredo, que inexplicavelmente se mantém asfixiado na montanha-russa de alegria e incerteza, longe do radar atento da personagem de Modiselle e de Sade, que se casa com um Winston, vivido por Loyiso Macdonald, um homem abusivo, muito mais interessado em dar satisfações a comunidade da igreja de que é membro, e Dikeledi, a menos encanada do quarteto, mas bastante perdida no que toca a relacionamentos com o sexo oposto. Gabisile Tshabalala e Amogelang Chidi completam oscilam entre desempenhos bons e medianos, o que não deixa de contribuir para que o espectador suspeite que haverá mesmo a ruptura sugerida no material de divulgação, bem como também intua que tudo há de se resolver. É exatamente o que acontece, mas de um jeito despretensioso, orgânico, um valioso predicado do cinema da África.
Filme: Amor, Sexo e 30 Velinhas
Direção: Stephina Zwane
Ano: 2023
Gênero: Drama/Comédia
Nota: 8/10