Eu já assistia MTV nos anos 2000, quando “Jackass”, um reality show criado por um grupo de jovens skatistas, dublês e comediantes, entrou para a programação e rapidamente se tornou um sucesso absoluto entre os adolescentes. Aquilo nunca realmente me pegou, mas durante anos soube por alto que a série que durou dois anos foi levada para o cinema em 2002. De lá para cá, sete filmes reuniram os fãs do absurdo em frente às telas.
Já se passaram 23 anos e aqueles rapazes na casa dos 20 agora são adultos na meia-idade que em “Jackass Para Sempre” permaneceram congelados na mesma mentalidade de humor e de carreira, com exceção de Spike Jonze, que evoluiu para produções mais sofisticadas e intelectuais, levando até mesmo um Oscar por roteiro original por seu filme “Ela”, de 2013. Mas ele ainda teve o impulso de retornar, talvez por nostalgia, ao último filme do grupo de comédia, lançado em 2022, após alguns atrasos ocasionados pela pandemia de Covid-19.
Toda a sequência inicial, que narra um Godzilla fálico invadindo e destruindo uma cidade de maquete em uma qualidade intencionalmente duvidosa, foi dirigida por Jonze. O desfecho é nada menos que a segurança pública derrotada após um jato letal de sêmen.
“Jackass” foi criado por Johnny Knoxville, que até hoje é líder do projeto e mantém do grupo original o dublê Steve-O, Chris Pontius, Wee Man, Preston Lacy, Dave England e Ehren McGhehey. Já o skatista Bam Margera foi demitido pela Paramount após descumprir um contrato de sobriedade, e Ryan Dunn faleceu em um acidente de carro, aos 34 anos, depois de assumir o volante embriagado.
“Jackass Para Sempre” é dirigido por Jeff Tremaine e teve o roteiro escrito por Jason Wee Man Acuña, Derrick Beckles e J.P. Blackmon. O longa-metragem tem uma hora e trinta e seis minutos de duração e não acompanha nenhuma história pré-estabelecida e com linearidade. É um compilado de esquetes, pegadinhas e desafios perigosos e dolorosos. De acordo com Wee Man, esse foi o filme mais difícil, em termos de dor, de ser realizado da franquia. É como se o desafio fosse fazer algo cada vez mais sofrível para seu elenco de homens-crianças.
O filme, com certeza, agrada seus fãs mais nostálgicos e oferece um entretenimento à altura do homem hétero americano médio. Nada precisa fazer sentido. Para ser engraçado, basta ser absurdo e torturante. Quase todos os desafios incluem flagelos nas genitálias, órgão que é sempre o centro das atenções do humor criado pelo grupo e que é exibido explicitamente durante todo o filme.
As acrobacias não são falsas e ingênuas e praticamente todos do elenco já sofreu ferimentos, ao longo dos anos, que necessitaram de cuidados médicos. Entre eles, Ehren McGhehey já quebrou o pescoço; Dave Englang rompeu um ligamento do joelho; Chris Pontius já foi mordido por animais, inclusive selvagens; o falecido Ryan Dunn chegou a fraturar o crânio em três lugares; Steve-O já quebrou o nariz, enquanto Margera partiu as costelas e perdeu dentes; e Knoxville já quebrou o cóccix e urina através de sonda. As consequências psicológicas em quase todos foram ainda mais graves, mas isso é assunto para outra hora.
Jackass sempre foi controverso, o que não significa que seja contracultura. O choque que provoca não tem substância e não manifesta nenhuma ideologia ou arte, a menos que se esteja cultuando a futilidade em sua forma mais crua e pura. Mas nem tudo precisa ser intelectual o tempo todo, não é mesmo? Se é exclusivo para entretenimento, talvez agrade quem se diverte com esse tipo de humor.
Filme: Jackass Para Sempre
Direção: Jeff Tremaine
Ano: 2022
Gênero: Comédia
Nota: 6/10