Desligue o cérebro e abra bem os olhos para não perder nenhum momento da comédia mais absurda da Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Desligue o cérebro e abra bem os olhos para não perder nenhum momento da comédia mais absurda da Netflix

Eu já assistia MTV nos anos 2000, quando “Jackass”, um reality show criado por um grupo de jovens skatistas, dublês e comediantes, entrou para a programação e rapidamente se tornou um sucesso absoluto entre os adolescentes. Aquilo nunca realmente me pegou, mas durante anos soube por alto que a série que durou dois anos foi levada para o cinema em 2002. De lá para cá, sete filmes reuniram os fãs do absurdo em frente às telas.

Já se passaram 23 anos e aqueles rapazes na casa dos 20 agora são adultos na meia-idade que em “Jackass Para Sempre” permaneceram congelados na mesma mentalidade de humor e de carreira, com exceção de Spike Jonze, que evoluiu para produções mais sofisticadas e intelectuais, levando até mesmo um Oscar por roteiro original por seu filme “Ela”, de 2013. Mas ele ainda teve o impulso de retornar, talvez por nostalgia, ao último filme do grupo de comédia, lançado em 2022, após alguns atrasos ocasionados pela pandemia de Covid-19.

Toda a sequência inicial, que narra um Godzilla fálico invadindo e destruindo uma cidade de maquete em uma qualidade intencionalmente duvidosa, foi dirigida por Jonze. O desfecho é nada menos que a segurança pública derrotada após um jato letal de sêmen.

“Jackass” foi criado por Johnny Knoxville, que até hoje é líder do projeto e mantém do grupo original o dublê Steve-O, Chris Pontius, Wee Man, Preston Lacy, Dave England e Ehren McGhehey. Já o skatista Bam Margera foi demitido pela Paramount após descumprir um contrato de sobriedade, e Ryan Dunn faleceu em um acidente de carro, aos 34 anos, depois de assumir o volante embriagado.

“Jackass Para Sempre” é dirigido por Jeff Tremaine e teve o roteiro escrito por Jason Wee Man Acuña, Derrick Beckles e J.P. Blackmon. O longa-metragem tem uma hora e trinta e seis minutos de duração e não acompanha nenhuma história pré-estabelecida e com linearidade. É um compilado de esquetes, pegadinhas e desafios perigosos e dolorosos. De acordo com Wee Man, esse foi o filme mais difícil, em termos de dor, de ser realizado da franquia. É como se o desafio fosse fazer algo cada vez mais sofrível para seu elenco de homens-crianças.

O filme, com certeza, agrada seus fãs mais nostálgicos e oferece um entretenimento à altura do homem hétero americano médio. Nada precisa fazer sentido. Para ser engraçado, basta ser absurdo e torturante. Quase todos os desafios incluem flagelos nas genitálias, órgão que é sempre o centro das atenções do humor criado pelo grupo e que é exibido explicitamente durante todo o filme.

As acrobacias não são falsas e ingênuas e praticamente todos do elenco já sofreu ferimentos, ao longo dos anos, que necessitaram de cuidados médicos. Entre eles, Ehren McGhehey já quebrou o pescoço; Dave Englang rompeu um ligamento do joelho; Chris Pontius já foi mordido por animais, inclusive selvagens; o falecido Ryan Dunn chegou a fraturar o crânio em três lugares; Steve-O já quebrou o nariz, enquanto Margera partiu as costelas e perdeu dentes; e Knoxville já quebrou o cóccix e urina através de sonda. As consequências psicológicas em quase todos foram ainda mais graves, mas isso é assunto para outra hora.

Jackass sempre foi controverso, o que não significa que seja contracultura. O choque que provoca não tem substância e não manifesta nenhuma ideologia ou arte, a menos que se esteja cultuando a futilidade em sua forma mais crua e pura. Mas nem tudo precisa ser intelectual o tempo todo, não é mesmo? Se é exclusivo para entretenimento, talvez agrade quem se diverte com esse tipo de humor.


Filme: Jackass Para Sempre
Direção: Jeff Tremaine
Ano: 2022
Gênero: Comédia
Nota: 6/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.