Vencedor de dois Oscars, obra-prima de Quentin Tarantino está na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

Vencedor de dois Oscars, obra-prima de Quentin Tarantino está na Netflix

O ator austríaco Christoph Waltz tem mais de 45 anos de atuação, mas o momento catártico de sua carreira veio mesmo em 2010, quando atuou em “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino. Além de ter o rosto reconhecido internacionalmente, ele concorreu pela primeira vez ao Oscar e ganhou. Sua interpretação icônica como o coronel nazista Hans Landa realmente impressionou.

O encontro com Tarantino foi um grande golpe de sorte. Foi graças a outro papel oferecido pelo cineasta a Waltz, em “Django Livre”, que ele disputou o Oscar de melhor ator coadjuvante pela segunda vez e ganhou. Neste último, por sua atuação como o doutor King Schultz, um dentista alemão que, por força do destino, vira um caçador de recompensas e um libertador de escravos negros.

Novamente impressionante em seu papel, o Schultz de Waltz se encontra propositalmente com o Django de Jamie Foxx, pois precisa dele para reconhecer os rostos de dois procurados da Justiça cujas cabeças valem uma boa recompensa. Django é um escravo que foi separado de seu grande amor, Broomhilda von Shaft (Kerry Washington). Depois de ter sua liberdade comprada por Schultz, ele aceita o ajuda, mas com uma condição: ao final da parceria, eles devem resgatar Broomhilda, que foi vendida para um cruel e poderoso fazendeiro do ramo de algodão no Mississipi, Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).

Candie tem alguns fetiches esquisitos, entre eles, a cultura francesa e a luta entre mandingos, uma espécie de briga de galos entre escravos negros. Schultz e Django fingem ser negociadores de lutadores para se aproximarem de Candie e salvar Broomhilda. Mais estranho que o fazendeiro é seu chefe da casa, Stephen (Samuel L. Jackson), que embora seja também um escravo negro, não mede esforços para defender os interesses de seu patrão. Todo o imbróglio renderá muito fingimento, intrigas, brigas surreais, xingamentos e sangue, do jeito exagerado e escancarado que Quentin Tarantino ama.

Na época de seu lançamento, “Django Livre” foi duramente criticado e polemizado por conta da violência e do linguajar. Will Smith, que foi convidado para interpretar o protagonista, rejeitou o papel por “não querer retratar negros como escravos, mas como heróis”, conforme declarou em uma entrevista. O cineasta Spike Lee afirmou que Tarantino foi desrespeitoso ao retratar sem seriedade a escravidão, que é uma espécie de holocausto do povo negro.

Mas o tempo deixou o filme falar por si próprio e mostrou que “Djano Livre” foi e é muito mais que um simples western spaghetti de vingança, mas é uma justiça, uma reparação histórica. Com o filme, temos oportunidade de ver racistas e escravagistas sendo humilhados e massacrados, assim como os verdadeiros mereciam ter sido.

Vencedor de dois Oscars, de melhor ator coadjuvante para Waltz e melhor roteiro original para Tarantino, “Django Livre” é um filme que realmente levou seu elenco a oferecer para o público o extremo da qualidade de suas atuações. Todos os papeis forçaram seus atores a serem excepcionais na frente das câmeras. Impossível não vibrar testemunhando cada uma das fascinantes facetas de Leonardo DiCaprio, Christoph Waltz, Jamie Foxx e Samuel L. Jackson.

A fotografia de Robert Richardson neste filme é bastante particular, porque engloba elementos clássicos dos faroestes espaguetes com o cinema moderno, fazendo com que o passado e o presente se sintam interligados. Além disso, Richardson usa coloração fria quando Schultz e Django estão no inverno caçando recompensas, mas ao chegarem no calor do Mississip as cores quentes tomam conta da tela. Closes dramáticos são usados para reforçar o suspense, mas os papeis caricatos escritos por Tarantino dão um tom cômico ao filme.

Com uma narrativa blaxploitation empoderadora, única e impactante, o filme de Tarantino já é histórico e vanguardista. Cerca de 11 anos após seu lançamento, ele emplaca o 57º melhor filme do cinema por usuários do IMDb.


Filme: Django Livre
Direção: Quentin Tarantino
Ano: 2012
Gênero: Faroeste/Ação/Drama
Nota: 10/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.