Aplaudido no Festival de Busan, onde levou o prêmio do público, “El Patrón: Radiografía de un Crimen”, de Sebastián Schindel, é um suspense slow-burn que retrata a história real de um assassinato em Buenos Aires. O cineasta conheceu o livro de Elías Neuman, advogado de verdade do caso, quando ainda trabalhava apenas com documentários e ficou fascinado. O próximo passo foi entrar em contato com ele para que o extraordinário relato pudesse ser levado para as telas.
O enredo gira em torno de Hermógenes (Joaquín Furriel), um humilde trabalhador que chegou na capital argentina de uma pequena vila em busca de melhores condições de vida. Ele trouxe consigo a esposa grávida, com quem divide um cubículo caindo aos pedaços, e que tem um banheiro sem porta e um colchão no chão. A vida do casal é precária e dura.
Hermógenes não consegue bons empregos, porque uma de suas pernas foi severamente afetada em um acidente com um cavalo, que sofreu quando ainda era criança. Sem muitas perspectivas, ele aceita o pesado ofício de carregar cadáveres de vacas do caminhão para a geladeira do açougue. Um tempo depois, ele consegue um emprego como açougueiro no estabelecimento de Latuada (Luis Ziembrowski).
Os acontecimentos que culminaram na morte do patrão são desdobrados por meio de flashbacks dos relatos de Hermógenes à equipe de defesa, incluindo seu advogado, Marcelo Di Giovanni (Guillermo Pfening). O assassino confesso descreve sua vida pessoal sofrida e a rotina de trabalho cheia de artimanhas e malandragens para conservar a boa aparência e o cheiro da carne para vendê-la, mesmo depois de velha.
Latuada, um homem desprezível, enche Hermógenes de promessas das quais não cumpre nenhuma, e mantém o funcionário exercendo cada vez mais funções e sem salário que pague, em uma relação análoga à escravidão, não bastasse os assédios morais e constantes ameaças.
Após exposta a situação do pobre açougueiro, tanto para os advogados quanto para o espectador, é revelado como ocorreu o crime. Foi rápido, sem chance de defesa da vítima e em um impetuoso ataque de fúria. Cheio de testemunhas e como um furacão, que simplesmente se apossou do corpo de Hermógenes e executou sua vingança.
Acusado por homicídio qualificado, em que se é notável o grau de perversidade do crime, o açougueiro acredita que foi destinado para tirar a vida de seu patrão e que sua sina é ser preso pelo seu ato, que não há perdão.
O longa-metragem é um olhar sobre o lado sombrio e pobre na Argentina e a escravidão moderna, que embora estampe semanalmente os jornais, suas vítimas permanecem invisibilizadas e esquecidas. Schindel também quer nos mostrar que o poder não está apenas nas mãos de milionários e políticos, mas dentro da realidade e do cotidiano da maioria das pessoas. Nas rotinas das empresas, nas relações entre chefes e funcionários ou dentro das famílias, em situações de violência doméstica.
O enredo também dá uma passada de olho sobre o sistema penal argentino e na ineficiência de algumas defensorias públicas. Claro, não é uma regra. Há muitos defensores competentes e dedicados, mas não ter condições de pagar por um advogado, com certeza, aumenta as chances de presos pobres pegarem penas maiores e mais duras que criminosos ricos.
O caso real de Hermógenes ocorreu há 30 anos, mas os temas abordados no filme continuam presentes no dia a dia. “El Patrón: Radiografía de un Crimen” foi sucesso de bilheteria na época de seu lançamento e isso é justificado pela qualidade da obra.
Filme: El Patrón: Radiografía de un Crimen
Direção: Sebastián Schindel
Ano: 2014
Gênero: Drama / Policial / Suspense
Nota: 9/10