Uma das mais belas obras do cinema nacional está na Netflix e você não pode perder! Divulgação / Reprodução

Uma das mais belas obras do cinema nacional está na Netflix e você não pode perder!

Ser adulto é mesmo estar só e quanto antes se entende que os momentos felizes — ou só alegres —, quando podemos esquecer por um tempo breve demais das mágoas e dos pesares que são nossos e de mais ninguém, não passam de uma benévola transigência da vida, menos se topa nas pedras do caminho, tão brilhantes quanto lesivas. “Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos” contém já no título as ironias que se vão confirmando no transcurso de pouco mais de hora e meia, tempo insuficiente para que o diretor Paulo Halm consiga elaborar de forma minimamente verossímil o despertar de um homem para os clamores de sua própria alma, o que pode ter sido intencional e, em sendo assim, tanto mais grave. Dono de uma vasta trajetória como roteirista de cinema e televisão e coautor de novelas, Halm mistura em seu primeiro filme elementos dessas duas linguagens, reservando espaço ainda para o teatro, presente na linda fotografia de Nonato Estrela. Contudo, por mais esteticamente atrativa que a história se revele, pouco resta a ser feito diante de um argumento reducionista, demasiado cinza para um tema cheio de nuanças.

A epígrafe de Baudelaire que abre o filme é mais uma pista sobre o que o diretor-roteirista pretende falar, ainda que atabalhoadamente. Solos de saxofone de um jazz mavioso dão lugar a sirenes da polícia, ambientação perfeita para que Zeca disserte a respeito de sua afeição pelos suicidas, mas quem tenta se matar afogando-se numa banheira? Caio Blat se sai bem na pele de um sujeito meio ensebado, que aos trinta anos continua sem rumo, autoproclamado escritor — é fascinante como a árdua estiva com as palavras vem a calhar para definir vagabundagem na perspectiva de gente do próprio métier — cujo projeto de romance não sai da quinquagésima página. O vitimismo, o lero-lero, a debilidade moral de Zeca acumulam-se como folhas mortas no jardim ensolarado que é Júlia, a professora de literatura vivida por Maria Ribeiro num dos grandes papéis de seu currículo. Resta óbvio que sua autonomia, seu bom humor, sua gana de ter da vida tudo quanto merece e, claro, fazendo tudo para o merecer, são como punhaladas na carne seca do marido, que lembra muito o protótipo de canalha desonesto eternizado por Nelson Rodrigues (1912-1980), cuja obra aparece em pílulas ao longo do enredo. Qual uma reencarnação viril de Zulmira, a personagem central de “A Falecida” (1953), Zeca sonha com o velório marcado por um desfile de cavalos de pena para justificar seu malogro e, pior, sua frouxidão invencível. Mas Júlia não está disposta a ser sua consorte nessa viagem.

Ao cabo de quase metade da trama, o segundo ato coroa o aparecimento de Carol, a aluna de Júlia, que guarda, sim, boas surpresas, mas não a ponto de fazer com que a audiência esqueça a tepidez do que já foi apresentado num sobe e desce de subtramas resolvidas fácil demais. A argentina Luz Cipriota é o macho de um triângulo amoroso previsível e, admitam os jecas ou não, a estrela de “Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos”. Às vezes, mulheres bonitas não são apenas as namoradas lésbicas de si mesmas.


Filme: Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos
Direção: Paulo Halm
Ano: 2009
Gênero: Drama/Romance
Nota: 7/10