Fui enganada: Barbie não é divertido e nem feminista

Fui enganada: Barbie não é divertido e nem feminista

“Barbie” não é tudo isso que pintaram por aí. Pura jogada de marketing. Muito bem-feita, inclusive. Quase todo mundo caiu. Te fazem acreditar que o filme é divertido. Bem, não é. É chatíssimo. Simula um humor esculachado, cafona, despreocupado, mas é só um humor esquisito e sem graça. Em algumas vezes, as piadas são tão ruins que chegam a ser constrangedoras. De despreocupado não tem nada. A pseudo-militância da obra se leva à sério demais. O feminismo é tão vazio e clichê, e se repete tanto, que suga toda a diversão do filme. Adoraria acreditar que a Barbie é feminista, mas convenhamos, não foi à toa que criaram o meme da Barbie Fascista.

No enredo, várias Barbies vivem na Barbielândia com outras dezenas de Kens. Quando a Barbie estereotipada (Margot Robbie) começa a ter crises existenciais e de autoestima, ela é avisada que precisa sair para o mundo real e encontrar garota que brinca com sua boneca para animá-la e reequilibrar as forças extradimensionais que estão em distúrbio. Em sua jornada no mundo realista, ela é seguida por Ken (Ryan Gosling) — seu namorado burro, grudento e sem personalidade —, que descobre o patriarcado e tenta implantá-lo na Barbielândia, onde todas as mulheres são bonitas, inteligentes e bem-sucedidas, enquanto os homens são ocos de qualquer substância e existem apenas para acariciar seus egos e serví-las.

Se a intenção do filme é militar e convencer machistas sobre quão nocivo é a opressão do patriarcado, dificilmente alcança seu objetivo. Se é empoderar mulheres, não há nada ali que elas já não tenham descoberto antes. Não é esperto idiotizar seu público-alvo. Até porque os homens não são sempre burros como Ken. Há muito homem machista e inteligente lá fora. É difícil de acreditar, mas é verdade! Sabe por quê? Porque o machismo é uma construção social. Nenhum homem acorda em um belo dia e decide oprimir mulheres. São anos e anos de estruturação do patriarcado na mente de uma criança e de um adolescente para ele se tornar um homem machista. Não é porque ele é inteligente que não foi influenciado pelo mundo que o cerca. Todos fomos. Nós, mulheres feministas, temos pensamentos machistas nos quais combatemos diariamente.

Não consigo acreditar que um homem machista vai assistir mais do que 10 minutos do filme. Permanecerão as mulheres (e olha que nem todas) e os rapazes mais progressistas, que querem parecer que eles se importam (e se importam até que o feminismo os atinge em cheio no seu privilégio masculino).

Eu, que me considero uma mulher feminista, não consegui rir de mais do que três piadas das quais nem me lembro mais. Eu poderia dizer que se não vale para militar, vale pelo entretenimento, mas não é verdade. O filme força tanto a mensagem, e de um jeito abobalhado, que é impossível esquecer a militância e apenas se divertir. O humor é estranho. Que é proposital, é claro que sei, mas isso não o torna inteligente. Não condiz com o trabalho em “Francis Ha” ou “Lady Bird”. Vão dizer que não se pode comparar, afinal, nada de Greta Gerwig foi tão comercial e acessível quanto “Barbie”. Mas é impossível dissociar o artista das obras e as obras entre si. Afinal, um cineasta vai traçando sua jornada ao longo de sua cinematografia. E se cresceu em termos de recursos e público, Greta caiu na qualidade. Noah Baumbach, marido da cineasta, ajudou a escrever o roteiro.

Fazer Barbie virar feminista da noite para o dia só porque ela tinha carreira, uma casa de dois andares e um carro conversível é ir longe demais. Não vamos esquecer que a boneca foi inspirada em silhuetas magérrimas e erotizadas, que ela é loira e de olhos claros. A Barbie não representa nem de longe todas as mulheres. Na verdade, representa pouquíssimas. Tudo que ela é, com suas roupas, acessórios e tudo mais, não passa de um produto que trouxe, assim como o filme “feminista” de Greta Gerwig, lucros inestimáveis para a Mattel. As bonecas brancas e magras vão vender igual água, renovando mais uma geração de mulheres insatisfeitas com sua imagem. “Barbie” transforma o feminismo em uma mercadoria que está dando excelentes resultados financeiros para as empresas que o bancaram.


Filme: Barbie
Direção: Greta Gerwig
Ano: 2023
Gênero: Comédia
Nota: 7/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.