A Netflix te leva ao coração do Egito antigo com essa fantasia épica que vai te surpreender Divulgação / Universal 1440 Entertainment

A Netflix te leva ao coração do Egito antigo com essa fantasia épica que vai te surpreender

As idas e vindas das sequências de ação têm suas particularidades. Ainda que tudo em “Escorpião Rei 5: O Livro das Almas” lembre o Egito Antigo — a começar pelo próprio enredo, adaptação de “O Retorno da Múmia” (2001), dirigido por Stephen Sommers —, a história toma corpo milhares de anos antes das pirâmides e dos faraós, outra das inconsistências retóricas do texto de David Alton Hedges e Frank DeJohn. Não há nada de flagrantemente original no filme, e nota-se logo no que vai dar o convescote de bárbaros que vangloriam-se de chacinar mesopotâmicos, assírios, micênicos e sumérios, ansiosos para passar pelo fio da espada um acadiano, Mathayus, o Escorpião Rei, guerreiro insubmisso que tenta libertar a civilização de que ainda é membro, embora quase todos o encarem como um pária. O protagonista do filme de Don Michael Paul luta contra impulsos poderosos, tentando dominar suas fraquezas, ao passo que fica cada vez mais vulnerável a movimentos confusos e sorrateiros do destino, que não entende, e lida com suas inadequações mais flagrantes, as que arruínam seu espírito silenciosamente.

Na quinta e última produção da franquia, lançada década e meia depois do longa inaugural, Escorpião 2º, o segundo dos dois soberanos do Alto Egito na era protodinástica, é a encarnação mesma da transcendência que acompanha os egípcios há pelo menos cinco mil anos. Hedges e DeJohn vertem para o roteiro a lenda sobre o rei Memtep, que se aliou a Anúbis, o Senhor das Profundezas, a fim de criar uma espada precita, tão cheia de sortilégios a ponto de conferir àquele que a possuísse o governo do mundo. Os nomes dos mortos pelo fio da Presa de Anúbis eram escritos no Livro das Almas, onde seus espíritos restavam prisioneiros por toda a eternidade, condenados à escuridão sem fim, e o empenho de Mathayus em tomar posse da relíquia tem um motivo especial: Nebserek, o Senhor da Guerra, quer o livro para subjugar as almas dos derrotados e dessa forma aumentar o séquito de escravos em seu reino infernal de destruição, de onde ninguém consegue fugir.

O diretor abusa de imagens estudadas cuidadosamente, todas registrando as paisagens amplas da África do Sul — que por seu turno fazem por merecer a excelente fotografia de Hein de Vos — na intenção de elevar à máxima potência a carga olímpica da trama, assumida também, por óbvio, pelo personagem central. Embora bem menos carismático que Dwayne Johnson, Zach McGowan dá conta do recado, até regalando o espectador com passagens deveras luminosas, a exemplo da que mostra o triunfo de Mathayus depois de uma série de enfrentamentos cuja precisão da coreografia chega a entusiasmar mesmo quem não é lá muito fã do gênero. O antagonista de Peter Mensah e Mayling Ng como a amazona-feiticeira caninamente fiel a seu Rei Escorpião, de volta a seus domínios pela força da honra, são outras duas gratas surpresas num epílogo em quase tudo dissonante do filme de 2002. Felizmente.


Filme: Escorpião Rei 5: O Livro das Almas
Direção: Don Michael Paul
Ano: 2018
Gêneros: Ação/Aventura/Fantasia
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.