O ano de 2023 ficou marcado por uma procura intensificada pelo gênero de suspense entre os assinantes da Netflix, um fenômeno que reflete um público crescentemente interessado em tramas complexas, cheias de mistérios e reviravoltas surpreendentes. Respondendo a essa demanda, a gigante do streaming lançou uma seleção variada de filmes que exploram o suspense de maneiras novas e empolgantes.
A Revista Bula, após uma avaliação cuidadosa, reuniu os cinco filmes mais relevantes de suspense lançados pela Netflix neste ano. Cada um desses filmes, apesar de estar enraizado no mesmo gênero, apresenta uma abordagem distinta, provando que o suspense é capaz de transcender fórmulas pré-estabelecidas, reinventando-se em contextos diversos e através de narrativas inovadoras.
Suspense denso que narra a tentativa de fuga de um casal de Istambul, em uma tentativa de se distanciar de um escândalo que ameaçava sua reputação. Optando por reiniciar suas vidas em uma nova cidade, ambos acreditam ter encontrado o refúgio perfeito para se afastar de seus problemas. Entretanto, à medida que se estabelecem em seu novo endereço, rapidamente se dão conta de uma resistência inesperada por parte dos habitantes locais. Esta comunidade aparentemente pacata revela-se decidida a expulsá-los de seu meio, dando início a um conflito que desafia as expectativas de um recomeço tranquilo que o casal tanto almejava.
Uma narrativa intensa que investiga as escolhas de uma mulher que opta por renunciar ao seu passado a fim de reinventar seu futuro. Neve, protagonista de origem negra e socioeconomicamente marginalizada, decide abandonar marido e filhos, em um gesto de profunda insatisfação com sua realidade. Avançando quase duas décadas, encontramos Neve em um contexto radicalmente distinto do que outrora vivia. Agora, ela se vê casada com um homem branco, estabelecida em um bairro de classe média-alta e é mãe de dois filhos exemplares. Entretanto, essa fachada de tranquilidade e prosperidade é desafiada com a chegada de duas figuras enigmáticas em sua vizinhança, que despertam os ecos do passado que ela tinha lutado arduamente para suprimir. A aparente segurança meticulosamente construída por Neve é abalada, inaugurando uma sequência de eventos que questionam sua compreensão da realidade e testam sua habilidade de confrontar os espectros de seu passado.
O filme nos submerge em uma realidade onde o apocalipse chega de maneira ondulante, arrastando a humanidade para o epicentro de eventos que estão além de seu controle. Esses eventos, que consomem anos para serem completamente compreendidos, surgem de circunstâncias oriundas de negligência, desmazelo e horror. O recorte proposto por Amezcua usa uma catástrofe contemporânea como alicerce para desenrolar uma espiral de mistérios, que se mostram indomáveis mesmo frente àqueles que se empenham para desvendá-los. Desde março de 2020, a humanidade começou a encarar consequências tangíveis e devastadoras de décadas de degradação ambiental. Esta degradação é o resultado de uma relação promíscua e desrespeitosa entre os seres humanos e o ambiente que os abriga. A situação se transforma em um autêntico caos conforme se tornam evidentes a inépcia e o descaso com que se conduziu a crise. Amezcua, por meio de “Infiesto”, busca mostrar que as escolhas desmedidas e a negligência têm repercussões assustadoras, que reverberam ao longo do tempo e criam realidades das quais não podemos facilmente nos desvencilhar.
Localizada na pitoresca e isolada Kamonmura, no Japão, a narrativa desenrola-se em torno de Yu Katayama, interpretado por Ryûsei Yokohama. O jovem personagem, preso em sua cidade natal devido a emaranhados do passado, se vê obrigado a trabalhar em um depósito de lixo para liquidar as dívidas acumuladas por sua mãe. Apesar da aparente servidão à sua cidade natal, Yu abriga esperanças de uma vida melhor. Esta aspiração ganha novo fôlego com a chegada de Misaki Nakai, personagem interpretada por Haru Kuroki. A chegada de Misaki reaviva as memórias da infância de Yu e reacende a determinação do jovem em buscar um futuro distinto. A trama apresenta temas de remorso, redenção e a busca constante pela autorrealização, mesmo quando confrontados com adversidades significativas. Ademais, a narrativa mergulha na capacidade humana de superar obstáculos e acreditar na possibilidade de mudança e crescimento, independente das circunstâncias passadas.
Em “Tin & Tina”, o cineasta Rubin Stein habilmente entrelaça uma narrativa intensa e perturbadora. O casal Lola e Adolfo, ainda cambaleando de uma perda catastrófica, encontram uma possibilidade de alívio para a sua dor na adoção de Tin e Tina, dois irmãos intrigantes. Contudo, a educação estritamente católica que receberam, baseada numa interpretação literal dos ensinamentos bíblicos, transforma o que inicialmente parecia ser a cura para o profundo vazio deixado por um aborto trágico, em uma provocação desafiadora para o casal. Ao longo do filme, Stein conduz o público através de uma exploração fascinante e muitas vezes desconfortável sobre os limites da fé. Ele propõe um questionamento intenso sobre como os indivíduos lidam com o luto e a recuperação após uma perda insondável. Além disso, o filme coloca em evidência a complexidade inerente à paternidade, especialmente em circunstâncias inusuais e desafiadoras. Cada cena contribui para uma atmosfera insólita, na qual os personagens são forçados a confrontar as suas crenças mais profundas, desafiando o público a questionar suas próprias concepções de moralidade e fé.