5 filmes na Netflix que previram o futuro de forma assustadoramente precisam Paramount Pictures / Netflix

5 filmes na Netflix que previram o futuro de forma assustadoramente precisam

Se toda história dispõe de começo, meio e fim, é lógico pensar que o mesmo se dê com a Terra — e com o próprio universo —, e, quiçá, tudo se reinicie de outro modo. As pesquisas de Albert Einstein (1879-1955) acerca do tempo e as diferentes posturas dos corpos diante do deslocamento da luz e da ação gravitacional, a base científica para a formulação da célebre Teoria Geral da Relatividade, em 1905, podem explicar o frenesi da humanidade em subjugar a passagem dos anos a seu talante. Tomando-se os postulados de Einstein em sua constituição pura, seria possível, até sem muita dificuldade, reordenar a passagem dos dias, dos meses, dos anos e séculos, indefinidamente, de acordo com as necessidades do homem, o que Stephen Hawking (1942-2018) ratificou com seus estudos sobre o espaço-tempo e a radiação dos buracos negros, onde a luz se desintegra e metamorfoseia-se em novas fontes de energia e uma força ineditamente poderosa, capaz de, como previra o alemão sete décadas antes, empurrar tudo quanto existe para o limbo onde a vida recomeçaria. À Teoria de Tudo do britânico, assunto do lindo filme homônimo dirigido por James Marsh em 2014, e às descobertas de Einstein, acrescentam-se elucubrações entre vesanas e francamente absurdas no que respeita ao suposto condão humano em pular de uma era a outra sem critério algum, cada vez mais ajudado pelas intenções nada cândidas dos dispositivos de inteligência artificial.

Nunca serão demais críticas a um mecanismo que, mais cedo ou mais tarde (e, pelo visto, será muito mais cedo do que se pensa), reduzirá seres humanos a meros coadjuvantes de sua história, inventado e gostosamente desenvolvido por outros seres humanos — quanto a isso nenhuma surpresa: homo sapiens sapiens tornamo-nos peritos em devorar-nos uns aos outros desde que o mundo é mundo, e continuamos abrindo caixas de Pandora para muito além do tropo da mitologia grega antiga —, descompasso ético-cognitivo que há de abreviar nossa marcha rumo à Terceira Guerra Mundial, com ogivas nucleares saltando de Pyongyang para Teerã, de Teerã para Ancara, de Ancara para Washington, de Washington para Marte, até, finalmente, voltarmos todos à condição de poeira cósmica de onde surgimos, num buraco negro a centenas de milhões de anos-luz daqui. O cinema, essa máquina do tempo sempre configurada para fazer-nos retroceder a nosso passado de rara glória e seguir para um amanhã em que a esperança será um artigo de primeira necessidade, também se constitui de exemplos que justificam o assombro de muitos diante do que nos reserva o progresso sem ordem e, claro, sem amor. Com “Ela”, Spike Jonze superou todas as expectativas quanto a revelar do jeito mais cartesianamente notório não como será, mas como É o futuro que já tornou-se passado, com onipresentes aparelhos domésticos respondendo em vozes amenas a nossos comandos e softwares tanto mais refinados, hábeis a emular um diálogo aparentemente normal, que uns espertos já souberam verter numa alternativa de fugir ao trabalho de pensar e, de quebra, ganhar algum dinheiro. Os outros quatro filmes da nossa lista, todos na Netflix, do mais novo para o de lançamento mais atual, ainda que flertem muito mais com a licença poética, a exemplo de “Jurassic Park — Parque dos Dinossauros”, dirigido por Steven Spielberg, também se referem ao vício do homem de nunca conseguir adequar-se ao meio em que é forçado a viver, querendo sempre experiências novas — sem atentar para a verdade ululante de que essa sua curiosidade o leva a dar vida não a uma, mas a dezenas de monstros, furiosos, candidatos a novos donos do mundo ansiando por desbancar o homo sapiens sapiens e usurpar-lhe o trono, ajudados pelo próprio homem.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.