Quando se juntam para fazer um filme, Alex Lehman e Mark Duplass se superam. É o caso de “Blue Jay” e “Paddleton”, duas produções que misturam comédia e drama e que transmitem uma casualidade, uma simplicidade que faz com que os espectadores facilmente se identifiquem com o que enxergam na tela. As histórias são acidentes do cotidiano, coisas que poderiam ocorrer a qualquer pessoa na China ou no Brasil.
É delicioso encontrar um filme que transpõe as barreiras culturais. E é por sua linguagem simples e que remete ao rotineiro e trivial, que nos sentimos em um lugar confortável. É como tirar um cochilo no próprio sofá ou tomar café na casa da avó. “Blue Jay” não é um romance, mas é sobre um romance. Um amor do passado que, embora se arraste dentro de um dos personagens como um fantasma que não adormece em paz, não tem mais chances de acontecer.
Dirigido por Lehman, o roteiro é escrito por Duplass, que também interpreta o protagonista Jim, um homem de meia-idade, que perdeu a mãe recentemente e ficou desempregado após uma disputa de clientes com seu tio, com quem trabalhava no ramo da construção civil. Frustrado, perdido e deprimido, Jim é impactado pelo reencontro inesperado com sua ex-namorada, Amanda (Sarah Paulson), que retornou à sua cidade natal para passar uns dias com a irmã grávida.
Os dois se cruzam em um supermercado. O primeiro encontro depois de anos é estranho, sem assunto. Amanda tira o gorro e arruma o cabelo antes de conversar com Jim, que esfrega a língua nos dentes constantemente, porque esqueceu de escová-los. Ambos querem causar uma boa impressão. Há claramente um sentimento impronunciável que resiste ao tempo e a distância entre eles.
No estacionamento do mercado, eles se reencontram e Jim chama Amanda para um café. Ela aceita e lá eles podem aprofundar um pouco melhor sua conversa. Jim revela sobre a briga com o tio, enquanto Amanda conta sobre como se tornou uma mãe instantânea ao se casar com Chris, um pai que divide a guarda dos dois filhos com a ex-mulher. Enquanto ele parece perdido e fracassado, Amanda aparentemente resolveu grande parte de sua vida.
Ela pede para ver a casa da mãe de Jim, que ele está reformando após sua morte. Há muitas histórias nesta residência sobre o próprio Jim e a Amanda, dos tempos em que eles namoravam no ensino médio. Conforme conversam, escutam músicas e áudios gravados na adolescência, relembram suas histórias e cafunés, Jim e Amanda se beijam e revisitam um passado doloroso. Em uma cena explosiva e dramática, Jim despeja seus sentimentos e segredos da história de ambos vêm à tona.
“Blue Jay” é completamente em preto e branco, gravado de uma câmera Canon comum e as filmagens duraram apenas sete dias. Absolutamente todos os diálogos foram improvisados e o roteiro apenas dizia os rumos da história e as informações básicas dos personagens. As conversas extremamente naturais que surgiam entre Jim e Amanda mostram a química incrível entre Mark Duplass e Sarah Paulson.
Pouco ambicioso, mas cheio de emoção, nostalgia, sinceridade e delicadeza, o filme é um dos melhores dramas já produzidos pela Netflix e vai comover você.
Filme: Blue Jay
Direção: Alex Lehman
Ano: 2016
Gênero: Drama/Romance
Nota: 10/10