Obra-prima de Rod Lurie é um daqueles filmes que faz valer a assinatura da Netflix Divulgação / Screen Media

Obra-prima de Rod Lurie é um daqueles filmes que faz valer a assinatura da Netflix

Rod Lurie é um dos diretores que melhor entendeu o potencial cênico-narrativo da guerra, capaz de mesmerizar ao passo que descreve boa parte da história de como chegamos até aqui. “Posto de Combate” tem a carga dramática e o impacto visual de clássicos modernos do gênero, a exemplo de “Guerra ao Terror” (2008), dirigido por Kathryn Bigelow; “Falcão Negro em Perigo” (2001), levado à tela por Ridley Scott; ou “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), empreitada de Steven Spielberg, e como os veteranos, também insere o espectador no centro da ação. Ao seu dom invulgar de desenvolver uma boa trama juntam-se talentos destacados de uma nova geração de atores que conhecem o que é uma sucessão de batalhas internacionais apenas por ouvir dizer, mas que absorvem à perfeição o encaminhamento que o diretor quer dar a seu trabalho, sem prejuízo de também escutar a voz da própria intuição. Caleb Landry Jones, Milo Gibson e Scott Eastwood, nessa ordem — e é curioso reparar que os dois últimos são filhos de estrelas que também despontaram para o grande público em produções que exploravam o pior e o melhor da natureza humana, Mel Gibson e Clint Eastwood, respectivamente —, estão especialmente bem, e no caso de Eastwood, seu desempenho aqui é inquestionavelmente superior a sua performance em “Instinto Assassino” (2022), de David Hackl, e talvez seja o caso dele investir mais assertivamente, como fez o pai no início da carreira, em papéis dessa envergadura, a fim de que pegue o jeito e, aí, sim, possa lançar-se a voos mais altos.

O roteiro de Paul Tamasy e Eric Johnson não encerra nenhuma grande novidade ao esquadrinhar um episódio específico da ocupação americana no Afeganistão, um ataque de dois dias, em outubro de 2009, a uma base avançada em Kamdesh, no nordeste do país. Encravada no centro de um vale, a instalação do posto sempre foi alvo de controvérsia, e à medida que o enredo avança, vai-se tendo a exata noção da progressão de descompassos na escala de comando. Ao termo de oito anos, desde os atentados ao World Trade Center, em Manhattan, e ao Pentágono, em Washington, em 11 de setembro de 2001, quando tropas dos Estados Unidos foram despachadas para o país eleito como o inimigo — numa manobra eminentemente diversionista do governo de George Walker Bush (2001-2009) —, foram registradas dez baixas só em Kamdesh. O fim da guerra no Afeganistão só foi declarado doze anos depois, em 30 de agosto de 2021. Ao todo, a ocupação custou mais de dois trilhões de dólares aos cofres públicos e ao longo dos confrontos tombaram cerca de 2.300 militares americanos. Eles tinham trinta anos, em média.

“Posto de Combate” é mais um dos jeitos que o cinema encontra para expor o paradoxo da guerra, solução fácil para problemas cada vez mais difíceis, e hoje, neste terceiro milênio, o homem parece viciado no cheiro de pólvora queimada e no ruído do aço dos canhões ainda estalando, preferindo abdicar da diplomacia e resolver suas diferenças valendo-se do ataque físico quando uma boa conversa trataria de evitar um banho de sangue que, não raro, se inicia por causa de um mal-entendido qualquer. Para essa gente, a guerra fascina; para jovens destemidos, que morrem pela inépcia criminosa de velhos teimosos, a guerra é só a mensageira de uma agonia sem fim.


Filme: Posto de Combate
Direção: Rod Lurie
Ano: 2020
Gêneros: Guerra/Drama
Nota: 9/10