As produções indianas estão longe de ser unanimidade — e Bollywood jamais deu a mínima para essa constatação —, sendo esse justamente o seu pulo do gato, e “Amor de Jovens” confirma a regra. No filme, o diretor Ayan Mukerji defende pontos de vista no mínimo controversos no que toca a sexo, tradições, e, claro, o mais humano dos sentimentos, relacionando um assunto a outro mediante personagens que ostentam uma natureza admiravelmente particular. Da mesma forma que no cinema do ocidente, os filmes indianos sobrevalorizam a juventude, deixando avançar os preconceitos com que Hollywood construiu seu império. Há, todavia, vez ou outra, uma lufada de ar fresco no que a indústria cinematográfica da Índia produz de verdadeiramente novo — mesmo que as cores, a sonoridade, o ritmo, quase sempre, dominem a narrativa de tal modo que não se tenha muito claro o propósito de tudo aquilo. No caso do filme de Mukerji, essa confusão proposital embarga o andamento da narrativa, e a experiência só é boa de fato para quem gosta dessas apoteoses de som e brilho a despeito do assunto de que se deseja falar.
A trilha de Pritam Chakraborty marca o início de “Amor de Jovens”. A música quase hipnótica, embora acelerada, fala dos desencontros entre daqueles que se amam, mas podem ficar juntos, e algumas cenas à frente, durante os preparativos de um casamento, uma garota diz a si mesma que o melhor da vida desencadeia lembranças ruins. Não se sabe ao certo sobre o que ela pensa — tanto menos quando associa essas memórias a uma caixa de bombons —, mas é evidente que Naina Talwar, a personagem de Deepika Padukone, tem amargado uma desilusão amorosa que o tempo custa a levar. O roteiro, do diretor e Hussain Dalal, volta oito anos, e mostra Naina devorando um livro de neuroimunologia enquanto remói um o fracasso de uma paixão. Ela é uma brava representante daquele grupo de mulheres cujo esporte favorito é arrastar correntes por tipos como Kabir Thapar, um donjuan inveterado e fora de controle que se faz anunciar por um apelido tão ridículo quanto enganoso. Para esse Coelhinho, o amor é uma estrada cheia de curvas acentuadas demais, e Ranbir Kapoor usa de todo o seu charme a fim de deixar o público cada vez mais furioso com sua leviandade. Mukerji dispensa muito mais esmero à performance de Kapoor, que por sua vez é hábil em fugir do previsível, tirando da cartola ao menos um arquear de sobrancelhas com que possa manter o interesse da audiência por essa figura repulsivamente dialética.
Há pontos escancaradamente louváveis neste filme. O jeito como se trabalha a angústia que homens com a índole de Kabir provocam nas moças com quem se envolvem, revigorando mais e mais as especulações sobre para onde vão os amantes de uma noite só ao amanhecer, é o grande trunfo de “Amor de Jovens”. Lamentavelmente, quase todas as boas intenções perdem-se em meio à avalanche de números musicais demasiado longos e enfarosos, o que não vai mudar nunca, bem como não tenho a pretensão de mudar o gosto de ninguém, apenas de sugerir pequenos ajustes — mesmo ciente de que a maior parte do quase bilhão e meio achem tudo aquilo uma beleza e, em sendo assim, tudo há de seguir como sempre foi: os diretores de Bollywood abusam das mais delirantes idiossincrasias, repetem a arcaicíssima fórmula musical-drama-romance-musical, e está tudo certo. Talvez esteja mesmo.
Filme: Amor de Jovens
Direção: Ayan Mukerji
Ano: 2013
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 7/10