7 filmes lançados em 2023 que valem a assinatura da Netflix Divulgação / Netflix

7 filmes lançados em 2023 que valem a assinatura da Netflix

Lutando contra seus impulsos, tentando dominar suas fraquezas, vulnerável aos movimentos que não pode entender — justamente aqueles que definem os rumos de como será sua vida frente às incessantes mudanças do mundo que o rodeia —, o homem garimpa no limbo as estrelas de seu firmamento. Desafiamo-nos a vencer nossos íntimos pesares como conseguimos, lidamos com nossas inadequações mais flagrantes ao passo que nos devotamos a interditar para nós o que sabemos ser a fonte do desassossego que nunca se manifesta em sua plenitude nefasta e que nos arruína o espírito em silêncio, até finalmente aflorar-se-nos à pele e revelar-se o monstro que em verdade é. Sozinho do berço ao túmulo, sujeito à vasta gama de intempéries que o intimida e o acossa com uma violência que nem sempre é capaz de tolerar, o gênero humano escapa por um triz a algumas trapaças do destino, é colhido por outras tantas, e, ainda, permite-se gostosamente enredar nas teias do imponderável, escolhendo lançar-se com tudo nas profundezas do abismo mais execrável mesmo depois de augurar todas as chances de evitá-lo.

Martin Heidegger (1889-1976), um dos pensadores mais completos — e complexos — da história, defendia a necessidade do recomeço como um dos eixos da vida do ser humano. Entre outros pontos, é fulcral no pensamento de Heidegger a valorização das muitas descobertas que o homem faz no decorrer de uma jornada que sempre lhe parece demasiado curta (e o é mesmo), mas que decerto vai ganhando cor, um viço inesperado, uma força qualquer poderosa o bastante para fazê-lo desviar do atoleiro ao passo que instiga nele a vontade recorrente de transpor os limites com que já se habituara, como se mais do que oxigênio, água e pão, tivesse de suprir-se antes de uma matula fornida de arrojo. A irrequietude do homem frente ao passar do tempo — obstinada, inclemente, cruel — e sua pletora de enigmas cuja solução é meramente umbrática, confere à natureza humana uma das raras certezas de que se tem o condão de pinçar desse território lodoso e edênico que é a vida: boas oportunidades vêm embaladas na aura de exclusividade que define como imperdoável um qualquer desperdício. Dizer que Pamela Anderson se desnuda frente às câmeras pode parecer uma blague um tanto grosseira (além de óbvia), mas é justamente essa a impressão que se tem ao longo dos 112 minutos do documentário sobre a eterna musa de “S.O.S. Malibu” (1989), uma mulher linda, sonhadora, valente e, roam-se os invejosos, sensível e culta. Ryan White faz um registro tocantemente intimista da estrela na história de amor em que todos nós, garotos esquisitos que frequentamos a praia para ler escutando a música ruim do vizinho de cadeira, nos sonhamos observando ao longe a beldade despontar das franjas do Pacífico qual uma Tétis platinada. Anderson nunca teve de peitar, com a licença do trocadilho, os pais para ser quem era e até ser começar a ser reconhecida pela série idealizada por Michael Berk, sucesso de público e crítica, febre mundial por onze temporadas e hoje cult, comeu o pão que o diabo amassou com o garfo, a colher e o prato que guardava como um tesouro no quarto-e-sala onde morou. A sereia, hoje uma loba de cinquenta e poucos, é uma mestra na arte de fazer do limão uma suculenta limonada, a tal resiliência, e figura na nossa seleção junto com outra meia dúzia de títulos, em que os protagonistas, em maior ou menor grau, valem-se de um dos infinitos contratempos do existir para ajustar a bússola e mudar de rota — isso quando a vida não imita a arte e o intérprete leva o personagem para a cama, a exemplo do que se passou com Idris Elba, o talento soberbo por trás do herói de “Luther — O Cair da Noite”, de Jamie Payne. Os sete filmes constam do acervo da Netflix, foram lançados neste 2023 e estão dispostos em ordem alfabética, tudo para fazer sua diversão o mais imediata possível, como só nós mesmos conseguimos.