À medida que “Agente Infiltrado” avança, mais nítida se torna a sensação de que já se sabe onde vai dar o filme de Morgan S. Dalibert. A vasta experiência do diretor em enredos que fundem ação, suspense e trapalhadas de uma polícia ora corrupta, ora bem-intencionada, mas perdida num sem-fim de necessidades jamais satisfeitas e às voltas com facções criminosas cada vez mais organizadas, renderam sequências capazes de manter o público numa expectativa quase perene, que só arrefece quando o número de cadáveres estendidos no chão supera qualquer chance de novas reviravoltas. É esse, contudo, o desafio de produções como “Agente Infiltrado”, que tem a seu desfavor abordagens ligeiras e pretensiosas sobre um tema sério e uma brusca mudança de rota no desfecho.
Decerto a promissora abertura do filme é o ponto alto do filme. Cruzando uma paisagem agreste, uma camionete velha leva homens munidos de fuzis por uma estrada deserta; inesperadamente, o veículo para, e eles descem, arrastando consigo uma pessoa encapuzada até uma gruta. Parece que se trata de um sequestro, inferência quase verdadeira que Dalibert elabora com competência, e se antes a fotografia de Florent Astolfi punha ênfase na luz pálida que coloria o cenário com tons pastéis no areal invencível, na vegetação rala e no céu sem nuvens, dentro do calabouço a escuridão reduz a cena a um bloco maciço onde nada se define muito bem. Aquela figura misteriosa consegue livrar do barrete e se esclarece afinal que Adam Franco, o antimocinho interpretado por Alban Lenoir, não vê a hora de acertar contas do passado numa missão suicida, e é aí que os problemas do roteiro, assinado por Dalibert e pelo próprio Lenoir, afloram de vez.
Não se pode cravar exatamente qual o objetivo de Adam, tamanha a confusão, talvez até deliberada, que se forma nesse núcleo. Percebe-se a intenção do diretor quanto a acrescentar à trama o maior número de ocorrências possível, a fim de que não se questione essa natureza de distopia do longa. Contudo, ao saber a identidade do refém que fora libertar — e com quem se misturara no cativeiro —, o personagem de Lenoir reveste-se de um ar redentor que soa farsesco, quiçá porque assaz repentino. Aproximando-se o terceiro ato, quando uma dupla de muçulmanos negros do Sudão do Sul implora a clemência do justiceiro, “Agente Infiltrado” perde uma grande oportunidade de poupar a audiência de constrangimentos desnecessários, ainda que tudo o mais tenha algum mérito sob a ótica do lazer.
Filme: Agente Infiltrado
Direção: Morgan S. Dalibert
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Suspense/Policial
Nota: 7/10