Filme de ação na Netflix é uma montanha-russa selvagem e vai te manter paralisado com olhos vidrados na tela Divulgação / Foresight Unlimited

Filme de ação na Netflix é uma montanha-russa selvagem e vai te manter paralisado com olhos vidrados na tela

A vida é o encadeamento de tempos exasperantemente comuns com eventos cuja natureza metafísica, imanente a tudo quanto se desenrola neste plano, à razão humana não é dado alcançar. Boa parte desses episódios toca de maneira direta à fortuna de uns na esteira da tragédia de outros tantos e, nesse clarão filosófico numa floresta de bestialidade, “No Olho do Furacão” confirma a voz rouca das ruas quando esta grita que a oportunidade faz o ladrão — neste caso sem figura de linguagem. O diretor Rob Cohen prepara o espectador para defrontar-se com situações que rechaçam completamente a trivialidade dos acontecimentos ordinários da vida como ela é ao passo que não deixa de salpicar a narrativa com a rasteira humanidade dos tipos que dão corpo à história, ainda que haja momentos em que o que prevalece é a forma como Cohen os faz parecer mesmo perdidos em alguma dimensão paralela entre o real e o imaginado, o orgânico e o artificioso, até que não se tenha muito claro os limites de uns e outros.

Com “No Olho do Furacão”, Cohen talvez tenha inaugurado um novo subgênero de filmes-catástrofe, aqueles que mesclam o caráter assumidamente over dessas produções a circunstâncias quase banais, guardadas as devidas proporções. Assim, uma hecatombe como o furacão Andrew, responsável pelo assolamento de Gulfport, no Alabama, sudoeste dos Estados Unidos, em 1992, vem e volta na lembrança de Will Rutledge, o doutor em meteorologia vivido por Toby Kebbell, que chegou ao topo da carreira quase por uma questão de honra e autorrespeito, perturbado pelo infortúnio que então se abalou sobre sua família. Um quarto de século depois, nem todo o brilhantismo de Will é capaz de afastá-lo do pior de si, tanto mais porque um novo vendaval parece querer balançar sua vida. Em 2017, a tempestade tropical Tammy, logo promovida a furacão categoria 1, chega com toda a força, ameaçando trazer-lhe novas angústias, desta vez mirando Breeze, o irmão emocionalmente instável com quem mantém uma relação a distância, mas afetuosa. Interpretado por Ryan Kwanten, o primogênito dos Rutledge está determinado a seguir na cidade mesmo com a fúria crescente de Tammy, que se expande para além dos danos previsíveis.

O diretor conecta as intempéries da natureza ao megarroubo de seiscentos milhões de dólares que uma organização criminosa tão destemida quanto violenta deseja levar a termo no Departamento do Tesouro de Gulfport. O furacão poderia ser um grande impedimento para os bandidos, mas tal como John Luessenhop vale-se da atmosfera destacadamente delirante de seu roteiro para fazer de “Ladrões” (2010) uma ode ao nonsense da vida no submundo, Cohen emprega bem a computação gráfica da equipe supervisionada por Orlin Budinov a fim de levar a trama para o campo pantanoso do thriller, momento em que a abnegada oficial Casey Corbin, de Maggie Grace, tem a certeza de que se está nadando com tubarões, e o filme passa, afinal, a frequentar a vizinhança dos clássicos de espionagem à “007” e “Missão Impossível”. O desfecho da história é feliz — um tanto insosso, mas feliz —, principalmente depois que a personagem de Grace ganha o devido espaço em meio aos brucutus que conhecemos de longe e desvenda um dos grandes “mistérios” de “No Olho do Furacão”.


Filme: No Olho do Furacão
Direção: Rob Cohen
Ano: 2018
Gêneros: Ação/Crime
Nota: 8/10