Inspirado em Francis Ford Coppola e Stanley Kubrick, filme hipnotizante na Netflix vai te deixar boquiaberto Francois Duhamel / 20th Century Studios

Inspirado em Francis Ford Coppola e Stanley Kubrick, filme hipnotizante na Netflix vai te deixar boquiaberto

“Interestelar”, de Christopher Nolan, abriu os caminhos para que filmes conceituais sobre o espaço ganhassem a atenção da indústria e o amor do público. Eles não são unanimidade. Não, não é todo mundo que gosta deles. Também não são meramente para entretenimento, embora forneçam uma overdose de efeitos de CGI e sejam riquíssimos em proporcionar o ilusionismo visual perfeito de um estouro de bilheterias. “Ad Astra” é um filme da produtora Plan B, da qual Brad Pitt é um dos donos. Isso fez com que, claro, ele pudesse colocar seu toque particular em todo o projeto, além de protagonizá-lo.

Dirigido por James Gray e escrito por ele em parceria com Ethan Gross, o filme era uma grande aposta de todos os envolvidos em sua produção, tanto que o diretor tinha sinal verde para fazer o que bem entendesse, o que, no fim das contas, custou muito caro, aproximadamente 100 milhões de dólares. Mesmo para uma celebridade como Brad Pitt, que foi um dos financiadores do filme, os custos foram elevados demais e acabaram atrasando a produção. Para piorar, “Ad Astra” foi um fracasso de bilheteria nos Estados Unidos, arrecadando pouco mais de 50 milhões de dólares por lá. Metade do que custou. Enfim, o que aliviou, foi que a bilheteria mundial chegou a cerca de 127 dólares, deixando uns trocados a mais para salvar o estúdio.

Além de caríssimo, “Ad Astra” conseguiu apenas uma indicação ao Oscar, na categoria mixagem de som. Mas é preciso admitir aqui, apesar de todos os problemas, o filme é belíssimo. Ele foge das tradicionais aventuras espaciais, como “Armageddon” ou “Apollo 13”. Não é um filme sobre heróis, mas sobre anti-heróis. Talvez nem isso. Provavelmente sobre uma crise familiar mal resolvida. Com os pensamentos do protagonista narrados sobre as belíssimas cenas de ângulos improváveis de Hoyte Van Hoytema, é quase como se estivéssemos vendo um filme filosófico de Terrence Malick, que deve ter influenciado, de alguma forma, a narrativa. O protagonista divaga sobre a existência, sobre sua relação com o pai, sobre a missão. Tudo de forma contemplativa e buscando a racionalidade.

Na fotografia etérea, é possível ver do olhar do astronauta de dentro dos capacetes espaciais, com reflexo batendo no caminho da visão. Câmera em modo travelling passeando pela nave como um olhar observador a revelar os detalhes que nós, espectadores, não poderíamos ver que estavam lá. Efeitos de profundidade e enquadramentos simétricos claramente inspirados por Stanley Kubrick dão requinte e mistério às imagens.

A trilha sonora de Max Ritcher é tão comovente e carregada de emoção, que nos faz flutuar no espaço sideral junto com o protagonista. Já nos efeitos especiais, James Gray quis fugir da regra dos CGIs e usar os artifícios de Kubrick em “2001: Uma Odisseia no Espaço”, como maquetes e imagens estáticas. Para o roteiro, Gray e Gross se inspiraram na história de “Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola, sobre um oficial do exército dos Estados Unidos que, durante uma missão na Guerra do Vietnã, se rebelou e se tornou uma liderança local.

No enredo de “Ad Astra”, uma sobrecarga de energia provocada por um antigo projeto espacial ameaça a Terra. O astronauta Roy McBride é convocado para a missão de ir até o fim da Via Láctea encontrar seu pai, capitão deste projeto, e que está há décadas desaparecido nas proximidades de Netuno. McBride precisa fazê-lo impedir essa sobrecarga, desistir do projeto e retornar à Terra. Mas a operação é cheia de segredos e mistérios que ele precisa desvendar para chegar até o pai.

Além da atuação sempre fenomenal de Brad Pitt, o filme conta com breves participações de Tommy Lee Jones, Kiefer Sutherland e Liv Tyler. “Ad Astra” é incompreendido e injustiçado, porque não merecia a reprovação que teve nas bilheterias. Mesmo assim, também não é um filme para todos, apenas para aqueles que se arriscam trilhar os caminhos complexos e densos da cinematografia. Um filme para apreciar, refletir, contemplar, digerir e questionar.


Filme: Ad Astra
Direção: James Gray
Ano: 2019
Gênero: Drama/Mistério/Aventura
Nota: 9/10