6 obras-primas na Netflix que você talvez não tenha visto

6 obras-primas na Netflix que você talvez não tenha visto

Os dilemas existenciais, tão comuns na vida do mais ordinário dos ordinários, nos tiram do prumo ao se prestar como uma espécie de prova de fogo, a fim de descobrir onde somos capazes de chegar em busca de um ideal, de uma convicção, de um sonho. A pobre natureza humana tem a necessidade de que lhe permitam deixar o rigor do mundo, a austeridade da existência, e partir para uma dimensão em que tudo soe mais genuíno, mais racional, em que a vida mesma faça mais sentido — ainda que por um tempo limitado, ainda que esse cenário só exista para aqueles que o planejam. As grandes transformações sociais começam dentro de cada homem, daí ser impossível, à luz do pensamento de gênios como o sociólogo alemão Max Weber, uma pretensa salvação da humanidade. A humanidade só se salvaria, irredutivelmente, se cada um de nós se desse conta de suas faltas e se emendasse, o que, é uma lástima, nunca vai acontecer. Cada um é responsável por sua própria redenção — ou sua própria desdita —, sendo sempre possível, evidentemente, arrepender-se, de coração, até o último segundo, tomar um caminho diferente e refazer a vida tanto como possível. No entanto, nunca satisfeito com o mundo da forma como se lhe apresenta, o ser humano se devota a combater os demônios que o atacam, tenham a cara que quiserem ter. Visando a libertar o povo de seu país de uma sucessão de governos autocráticos, um homem se torna membro de uma guerrilha, com o propósito de assaltar bancos e repartir o dinheiro entre quem precisa. O uruguaio José Alberto Mujica Cordano, ex-paramilitar, ex-preso político, ex-mandatário maior de sua terra e hoje apenas um humilde agricultor familiar e sossegado octogenário, retirado ao bucolismo de seu pequeno sítio, é o protagonista de “A Noite de 12 Anos” (2018), do diretor Álvaro Brechner. Esse e mais cinco títulos, lançados entre 2020 e 2014, todos no acervo da Netflix e com alguns prêmios na algibeira, não merecem ser relegados ao ostracismo.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.