Em 2025, a Netflix volta a alternar filmes recém-lançados com sucessos de anos anteriores, deslocando-os de janela em janela conforme vencem licenças e acordos regionais. A combinação desta vez aproxima um desastre sul-coreano recente, um thriller de ação de assinatura autoral e dois filmes de fantasia ligados à cultura pop de 2018 e 2019. Apesar das origens diferentes, os quatro filmes compartilham uma ansiedade contemporânea: depender de sistemas que parecem sólidos até o instante em que falham. Prédio, rotina de trabalho, mundo digital e família aparecem como zonas instáveis, onde a confiança é negociada e o risco cobra respostas imediatas.
Num dos filmes, a ameaça não vem de um vilão, mas do avanço da água que transforma um condomínio em cárcere vertical. Com elevadores inutilizados e sinal intermitente, moradores ficam presos nos andares altos, com recursos diminuindo e decisões coletivas cada vez mais difíceis. A presença de uma pesquisadora de inteligência artificial e de um agente de segurança do edifício leva o drama para a zona cinzenta entre manual e improviso, quando o que vale é inventar rotas, dividir suprimentos e conter o pânico. Em outro filme, o confinamento é mental: um profissional treinado para desaparecer tenta manter anonimato e controle enquanto um trabalho mal executado quebra seu ritmo e o empurra para uma caça silenciosa, entre aeroportos, hotéis e contratos de fachada, com a própria vulnerabilidade à mostra.
Os dois filmes de fantasia tratam do mesmo tema por caminhos mais coloridos: identidade como performance e poder como disputa. Em um deles, um mundo físico em crise empurra milhões para um universo virtual onde enigmas valem fortuna e o controle do sistema é o prêmio, enquanto uma corporação tenta comprar vantagem com dinheiro e coerção. A distância entre avatar e pessoa, entre amizade real e reputação online, vira motor dramático e comentário sobre uma vida mediada por telas. No outro, um adolescente passa a habitar um corpo adulto ao pronunciar uma palavra, e o choque entre aparência e maturidade coloca a família adotiva no centro do conflito. A coincidência de chegada desses filmes na mesma semana revela um cinema que prefere crises de confiança a certezas heroicas, sem abrir mão de ritmo e imaginação.
Divulgação / NetflixUma enchente de grandes proporções atinge uma cidade sul-coreana e transforma um edifício residencial em um espaço de confinamento extremo. Com os níveis de água subindo rapidamente, moradores ficam isolados nos andares superiores, sem comunicação eficiente e com recursos cada vez mais limitados. Entre eles estão uma pesquisadora especializada em inteligência artificial e um agente de segurança responsável pelo prédio, que acabam forçados a cooperar para enfrentar a situação. A emergência revela falhas estruturais, decisões mal calculadas e a dificuldade de coordenar ações quando protocolos deixam de funcionar. Enquanto a água invade corredores e áreas comuns, a sobrevivência passa a depender de escolhas imediatas, improviso e confiança entre pessoas que pouco se conheciam. A narrativa acompanha o avanço da inundação e o impacto psicológico do confinamento, observando como o medo, o cansaço e a pressão alteram comportamentos. Em vez de apostar em grandes deslocamentos ou resgates espetaculares, a história se concentra na experiência de permanecer preso em um espaço que se torna progressivamente mais hostil, transformando um desastre natural em um teste contínuo de resistência, adaptação e responsabilidade coletiva.
Divulgação / NetflixUm assassino profissional executa seu trabalho a partir de um conjunto rígido de regras pessoais, baseadas em controle emocional, preparação obsessiva e anonimato. Após uma longa espera em Paris, uma execução planejada com precisão falha, desencadeando uma reação em cadeia que ameaça sua segurança e sua autonomia. Forçado a abandonar a posição de observador distante, ele inicia uma jornada por diferentes países para conter os danos, eliminar riscos e retomar o controle da própria rotina. A trajetória passa por encontros calculados, deslocamentos discretos e o uso sistemático de serviços e tecnologias que permitem operar à margem da visibilidade pública. Ao longo do percurso, a narrativa observa a contradição entre o discurso interno de disciplina absoluta e a fragilidade real de um sistema que depende de acertos constantes. O foco não está em redenção ou transformação moral, mas na tentativa de preservar um método de vida que se sustenta na repetição e no isolamento. A história acompanha esse movimento com atenção aos detalhes do trabalho, ao custo psicológico da vigilância permanente e à forma como o erro desmonta uma identidade construída para não falhar.
Divulgação / Warner Bros.Um adolescente criado em lares adotivos enfrenta dificuldades para se adaptar a novas famílias e encontrar estabilidade emocional. Sua rotina muda de forma abrupta quando ele é escolhido por um antigo mago para receber poderes extraordinários, capazes de transformá-lo fisicamente em um herói adulto ao pronunciar uma palavra específica. Apesar da aparência poderosa, sua mentalidade permanece a de um jovem inseguro, o que gera situações de descoberta, erro e aprendizado. Enquanto experimenta limites e possibilidades desse novo corpo, surge uma ameaça ligada ao passado do próprio mago: um homem obcecado pela mesma fonte de poder, que acaba acessando forças perigosas associadas a entidades sobrenaturais. A narrativa acompanha o contraste entre fantasia e cotidiano, explorando como habilidades extraordinárias não resolvem conflitos pessoais automaticamente. Ao longo do caminho, a noção de família ganha peso, não apenas como laço biológico, mas como construção baseada em escolha e responsabilidade. O enredo se desenvolve a partir dessa tensão entre amadurecimento pessoal e dever, observando como assumir poder implica aceitar consequências que vão além da diversão inicial.
Divulgação / Warner Bros.Em um futuro marcado por crise econômica e colapso ambiental, grande parte da população encontra refúgio em um vasto universo digital chamado OASIS. Nesse ambiente virtual, usuários assumem avatares, constroem reputações e vivem experiências que contrastam com a precariedade do mundo físico. Após a morte do criador do sistema, é anunciado um desafio global: uma competição estruturada em pistas e enigmas que promete entregar não apenas uma fortuna, mas o controle do próprio OASIS a quem vencer. Um jovem órfão decide participar da disputa e logo percebe que o jogo exige mais do que habilidade técnica. Conhecimento cultural, leitura de códigos do passado e capacidade de colaboração tornam-se essenciais. Ao mesmo tempo, uma grande corporação tenta monopolizar a competição usando poder financeiro e coerção. À medida que a corrida avança, alianças são formadas e testadas, e a separação entre identidade virtual e vida real começa a se desfazer. A narrativa acompanha essa transição, explorando a tensão entre escapismo e responsabilidade em um mundo que prefere se esconder atrás de telas.




