Chocante e brutal, o filme que vai partir seu coração em mil pedaços, na Netflix Divulgação / Netflix

Chocante e brutal, o filme que vai partir seu coração em mil pedaços, na Netflix

Quando se é repórter, você vê muita coisa, conhece muitas pessoas, ouve muitas histórias. Você é atingido por cada uma delas. E, acredite, embora alguns pensem que repórteres são abutres em busca de cadáveres, dos crimes mais sangrentos, das histórias mais chocantes e famintos por um furo ou por audiência, não é bem assim na maioria das vezes. Sou repórter há 11 anos e trabalhei nos maiores veículos de comunicação do meu estado. Conheci jornalistas incríveis, que me inspiram. No meio de tantos colegas de profissão, conheci muitos impactados pela rotina, pelas histórias e pelas cenas que testemunharam. Alguns viveram colapsos emocionais, outros mudaram de profissão e outros ainda resistem.

No novo documentário da Netflix, “Quartos Vazios“, o repórter da CBS Steve Hartman conta como saiu das notícias inspiradoras e de alto-astral para esse projeto pessoal. Conhecido na televisão americana, ele cobriu durante mais de uma década ataques a escolas de todo o país. Sua missão era encontrar, em meio àquelas tragédias, ganchos inspiradores que trouxessem esperança e bem-estar para o público. Cansado de encontrar um fio de sobriedade em meio ao caos, algo equivalente a encontrar uma agulha no palheiro, Hartman decidiu se entregar à sua dor, à dor de cobrir centenas de massacres em escolas.

Dirigido por Joshua Seftel, o documentário de 35 minutos acompanha Hartman e o fotógrafo Lou Bopp em algumas visitas às casas de famílias afetadas pelo luto. Em cada uma dessas residências, um quarto vazio. O vazio de um filho que saiu para a escola e nunca mais retornou. O silêncio de um quarto sem mais gritos, gargalhadas e barulhos de brincadeiras. Cada família afetada, algumas há anos, não consegue se desfazer dos objetos que lembravam seus filhos. Quartos que permanecem intocados, na esperança de guardarem ali as memórias, o cheiro e a essência de quem foram aquelas crianças.

Hartman faz um questionamento importante: “Por que damos visibilidade aos assassinos, mas não às vítimas?“. “Por que somos curiosos por quem provoca o mal, mas não por quem é afetado por ele?“. Em vez de tentarmos desvendar a personalidade dos criminosos, não seria melhor conhecer aqueles que se foram, quem eram e quais eram suas personalidades? Bopp, fotojornalista experiente, revela que nunca fez nada parecido. Fotografar cada centímetro de quartos infantis, resgatar a essência daquelas crianças e criar álbuns de fotografias para seus pais, para que eles jamais se esqueçam de como tudo foi deixado antes da morte, parece uma singela tentativa de reparar o dano.

Disso tudo, fica um dado avassalador: em 2024, os Estados Unidos registraram 321 ataques em escolas, enquanto em 2023 foram 349. No Brasil, foram 42 ataques entre 2001 e 2024. Nem por isso acredito que a taxa brasileira esteja baixa. É preciso monitoramento extremo do Poder Público, desarmamento da população, anonimato completo dos assassinos para dissipar qualquer glamourização desses crimes e vigilância policial 24 horas por dia. É fundamental garantir a segurança de crianças no ambiente escolar. Afinal, o que será de nós se não tivermos paz para enviar nossos filhos para a escola?

Filme: Quartos Vazios
Diretor: Joshua Seftel
Ano: 2025
Gênero: Biografia/Documentário/Drama
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.