Filme leve e bobinho que vai dar férias para sua cabeça chega à Netflix Divulgação / Walt Disney Pictures

Filme leve e bobinho que vai dar férias para sua cabeça chega à Netflix

O ponto de partida de “Magic Camp” é simples: um ilusionista em decadência, Andy (Adam Devine), retorna ao acampamento onde passou a juventude para orientar um grupo de adolescentes interessados em mágica. Ele aceita o convite não por altruísmo, mas porque sua carreira está à beira da irrelevância e ele precisa recuperar a sensação de propósito. Esse retorno forçado estabelece o centro dramático da narrativa, ainda que o filme opte por tratá-lo de maneira leve e sem aprofundar conflitos internos com maior rigor.

O enredo se organiza com clareza: Andy é designado para treinar jovens com perfis distintos, entre eles Theo (Nathaniel Logan McIntyre), um garoto talentoso que lida com a perda recente do pai, e Ruth (Isabella Crovetti), cuja insegurança contrasta com o entusiasmo que demonstra pelos truques. A trama acompanha o período de preparação do grupo para a competição final do acampamento, estruturada como um ritual anual de consagração. O filme busca articular a evolução dos personagens a partir desse objetivo, ainda que nem todos recebam desenvolvimento proporcional.

A presença de Kristina Darkwood (Gillian Jacobs), conselheira rival, introduz um conflito secundário. A disputa entre ela e Andy pretende tensionar o ambiente, mas a rivalidade é pouco explorada, funcionando mais como contraponto do que como elemento dramático relevante. A tentativa de sugerir um passado afetivo entre ambos carece de consistência dentro do que é estabelecido; por isso, suas interações permanecem superficiais. Mesmo assim, Kristina cumpre a função de pressionar Andy a assumir responsabilidades que ele vinha evitando.

A estrutura narrativa acompanha o padrão tradicional de histórias ambientadas em acampamentos infantojuvenis: apresentação dos grupos, treinamentos, pequenos atritos e, ao final, a apresentação pública que define o prestígio dentro daquele microcosmo. A previsibilidade, porém, não invalida o funcionamento interno do filme. Ele sustenta ritmo adequado e estabelece um ciclo claro de causa e efeito, ainda que opte sempre pelo caminho mais simples.

O ponto mais sólido da produção está no conjunto de adolescentes. Suas trajetórias individuais, mesmo tratadas de forma breve, oferecem uma variedade de conflitos que poderiam, se explorados com maior profundidade, sustentar uma narrativa mais complexa do que a centrada no protagonista adulto. O filme parece consciente dessa possibilidade, mas prefere manter Andy como eixo. Essa escolha limita o potencial dramático, sobretudo porque Adam Devine interpreta o personagem com energia cômica que nem sempre combina com a proposta de redenção pessoal que o roteiro tenta sugerir.

A direção investe pouco em criar impacto visual nos truques. Muitos efeitos são discretos e dependem mais da montagem do que da habilidade manual dos personagens. Essa opção, comum em produções voltadas ao público familiar, reduz a sensação de encantamento que histórias sobre mágica normalmente buscam provocar. Por outro lado, facilita a compreensão do público mais jovem e mantém o foco na dinâmica entre os personagens, não na técnica.

O desfecho cumpre exatamente o que se espera: a equipe de Andy apresenta seus números com segurança, o protagonista encontra algum grau de reconciliação com sua trajetória e os adolescentes demonstram crescimento pessoal. Nada surpreende, mas tudo se encaixa dentro da lógica interna que o filme estabelece. “Magic Camp” funciona como entretenimento moderado, sem ambições além do que entrega. Ao final, resta a ideia de que a mágica, no contexto apresentado, é menos sobre ilusão e mais sobre permitir que jovens encontrem uma voz minimamente segura para expressar suas fragilidades diante dos outros.

Filme: Magic Camp
Diretor: Mark Waters
Ano: 2020
Gênero: Comédia/Fantasia
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.