Os pais resolveram buscar o filho na escola. O menino começou a demorar e os dois estranharam. Perguntaram a um inspetor pelo filho. O menino estava na escola, sim, e já devia ter saído. Passados uns quinze minutos além do horário normal, a mãe recebeu um telefonema. Era o filho.
— Vocês vieram juntos?
— É, filho, o seu pai teve uma folga no trabalho e resolveu vir comigo te buscar.
— Tá maluca, mãe? Assim todo mundo vai ficar sabendo.
— Sabendo o quê?
— Que vocês são casados.
— Ué, e qual é o problema?
— Qual é o problema, mãe? Fala sério! Ninguém aqui tem pai casado com a mãe!
— Claro que tem, filho. — Ela pensou um pouco — lembrou — do Diogo! Eles são casados, não são?
— Não são! Aquele cara não é o pai dele.
— Ah, não…
— Não, claro que não, mãe! Eu sou o único da minha sala que tem pais casados. Acho que da escola toda.
— Que bom, né, filho…
— Bom nada! E agora, pra piorar, vocês vêm me buscar juntos! E ainda ficam de mãos dadas na porta da escola!
A mãe tomou um susto e até largou a mão do pai, que não entendeu nada.
— Filho, qual é o problema de ser casada com seu pai?
— Ninguém é casado com o pai do filho, mãe. A média aqui é de três padrastos e duas madrastas.
— Mas eu e seu pai nos amamos…
— Eu sei. Mas precisa ficar demonstrando isso na porta da escola?
— Filho, eu não acredito! Você está sofrendo bullying?
— É, mãe…
— Bullying por ter os pais casados?
— É isso, mãe…
— Que absurdo! Nós vamos reclamar com a diretora e…
— Não! Por favor, mãe, não! — o menino gritou.
— Meu filho, o que você quer que a gente faça então? Eu não vou me separar do seu pai.
— Não, claro que não! Mas, sei lá, finge que pelo menos vocês não se dão bem…
Os pais continuam casados. Mas todas as vezes que algum amigo do filho se aproxima, o casal simula uma briga. Na reunião de pais, vão os dois, mas sentam-se em lados opostos da sala. E discutem entre si todas as questões. E é claro que nunca mais foram juntos buscar o menino. Nem ficaram de mãos dadas na frente da escola.
