O melhor filme de ação do último ano, um fenômeno do cinema mundial, finalmente chegou à Netflix Divulgação / Warner Bros.

O melhor filme de ação do último ano, um fenômeno do cinema mundial, finalmente chegou à Netflix

Antes de se tornar combatente respeitada na estrada, Furiosa vive em um oásis escondido, cercado por árvores e água limpa. A rotina termina quando um grupo de motociclistas liderado por Dementus invade o local, captura a menina e a leva para o deserto, onde combustível determina trajetos e sobrevivência depende de improviso. “Furiosa: Uma Saga Mad Max” acompanha esse deslocamento forçado e observa como a personagem cresce entre sequestros, negociações e tentativas de preservar lembranças que a ajudem a encontrar o caminho de volta.

Dirigido por George Miller, o filme traz Anya Taylor-Joy na fase adulta da protagonista e Alyla Browne na infância, com Chris Hemsworth como Dementus, líder errante de discursos exaltados, e Tom Burke como Praetorian Jack, motorista que conhece rotinas de comboios e riscos de cada rota. A produção não adapta obra literária; funciona como prelúdio a “Mad Max: Estrada da Fúria” e amplia o panorama político e territorial que sustentará conflitos futuros.

O enredo se divide em etapas sucessivas. Primeiro, Furiosa cai sob domínio de Dementus e observa como o grupo dele controla deslocamentos e reparos de maneira improvisada. A horda vive de ataques rápidos a vilarejos, retém estoques de água e combustível e tenta impor autoridade por meio de discurso teatralizado. Em seguida, a jovem é entregue a Immortan Joe, que conduz a Cidadela com regras rígidas de abastecimento e alianças com Gas Town e Bullet Farm. Cada troca de comando altera a posição de Furiosa, muda o acesso a comida, descanso e ferramentas, e define o que ela pode aprender sem chamar atenção.
A narrativa adota capítulos que marcam saltos temporais e permitem acompanhar a formação da personagem em diferentes funções. Em um momento, ela é mantida sob vigilância; em outro, passa a circular entre oficinas e plataformas, onde observa lógica de manutenção de veículos e hierarquias entre guerreiros. Esses movimentos revelam a maneira como cada tirano sustenta sua área de influência: Dementus aposta em velocidade e intimidação, Immortan Joe em burocracia militarizada e promessas de distribuição controlada de recursos.

Nas sequências de ação, a câmera destaca trajetos e posições relativas. Perseguições sobre caminhões, motos adaptadas e carros reforçados usam planos abertos para mostrar quem avança pelos flancos, quem tenta furar bloqueios e quem perde vantagem ao errar cálculo de distância. Em ataques a comboios, a montagem privilegia continuidade visual que evita confusão: veículos são mostrados em alturas diferentes, cabos estendidos surgem como linhas de captura e explosões laterais deixam claro o alcance de cada impacto antes da retomada da marcha. Esses procedimentos tornam legível a mecânica de risco que define cada confronto.

Elementos de faroeste aparecem no uso de planícies amplas, postos isolados e disputas por posse de rotas. A paisagem seca funciona como árbitro de decisões, já que qualquer desvio pode consumir combustível necessário para retornar à base. A “Terra Verde”, vista apenas em lembranças, contrasta com a poeira que domina a maior parte do filme e reforça a urgência do desejo de Furiosa de recuperar o que perdeu. Cada vislumbre de vegetação pesa sobre as escolhas de fuga, já que alcançar o local exige atravessar territórios hostis e lidar com grupos que patrulham estradas em troca de suprimentos.

Anya Taylor-Joy concentra a expressão da protagonista em gestos mínimos: ela mede distâncias antes de correr, calcula saídas durante conversas e alterna olhar fixo e recuo estratégico conforme avalia risco. Alyla Browne, na fase infantil, mantém postura alerta que indica como a personagem registra agressões e tenta sobreviver sem entregar suas origens. Chris Hemsworth constrói um Dementus espalhafatoso, que se apoia em discursos que tentam transformar derrotas em relatos de bravura. A figura exibe humor agressivo, inventa rituais improvisados e usa adereços para reforçar autoridade diante de seguidores cansados de longas marchas.
O roteiro destaca como diferentes sistemas tratam corpos como engrenagens substituíveis. Na horda de Dementus, soldados são abandonados quando se ferem. Na Cidadela, cada função vem acompanhada de ração e promessa de acesso a água, o que cria dependência rígida. Furiosa contorna ambos os regimes com gestos discretos: escuta conversas que lhe dão pistas de rotas, observa padrões de troca entre fortalezas e aprende a consertar veículos para se tornar útil sem perder a chance de planejar fuga. Quanto mais tempo passa em oficinas e plataformas, mais entende a lógica de abastecimento que sustenta o poder de Immortan Joe.

A fotografia usa amarelos queimados durante o dia e tons azulados nas noites, criando contraste que evidencia quando grupos decidem avançar ou se esconder. A luz forte do deserto ressalta poeira levantada pelos motores e expõe desgaste de veículos usados até o limite. Já as cenas noturnas permitem calcular distância entre postos e identificar brechas de vigilância. Essa alternância reforça o papel do tempo na narrativa: ataques diurnos exigem velocidade, enquanto incursões noturnas dependem de cautela e leitura precisa de sombras.

O desenho de som reforça pressão constante. Motores acelerados, estalos de metal e gritos de guerra se misturam a períodos de silêncio em que o vento domina o ambiente. A trilha musical aparece de modo intermitente e acompanha avanços repentinos, recuos forçados e instantes em que a protagonista pesa opções antes de agir. Essa oscilação entre barulho extremo e quietude indica quando a estrada se torna campo de batalha ou quando o filme se concentra na reconstrução interna de Furiosa.

Ao olhar para trás na cronologia da saga, “Mad Max: Estrada da Fúria”, “Furiosa: Uma Saga Mad Max” amplia a compreensão de relações entre fortalezas, pactos frágeis e carreiras de guerra que movem grupos pelo deserto. Acompanhando perdas, deslocamentos e negociações silenciosas, o longa revela como pequenas concessões e pequenos desvios determinam chances de sobrevivência. A última imagem evidencia que futuros confrontos dependerão do que restar nos depósitos e das viagens necessárias para renovar estoques, condição que mantém a estrada em permanente estado de alerta.

Filme: Furiosa: Uma Saga Mad Max
Diretor: George Miller
Ano: 2015
Gênero: Ação/Aventura/Épico
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★