Acabou de chegar à Netflix: o thriller com Denzel Washington, Rami Malek e Jared Leto que vai te prender no sofá até domingo Divulgação / Warner Bros.

Acabou de chegar à Netflix: o thriller com Denzel Washington, Rami Malek e Jared Leto que vai te prender no sofá até domingo

A trama acompanha Joe Deacon, xerife de um condado do interior que viaja a Los Angeles para resolver um procedimento administrativo e reencontra cenários que marcaram sua carreira. A cidade enfrenta uma sequência de assassinatos de mulheres, com padrões ainda indefinidos e pressão crescente por respostas. Deacon pretende permanecer apenas o tempo necessário para assinar documentos, mas sua passagem pela delegacia coincide com a chegada de novas informações sobre os crimes. Em “Os Pequenos Vestígios”, esse retorno inesperado faz o personagem percorrer ruas que reacendem tensões antigas.

O detetive Jim Baxter, interpretado por Rami Malek, lidera a investigação e enxerga na presença de Deacon a chance de cruzar pistas e acelerar decisões. A troca inicial de informações se transforma em colaboração silenciosa, enquanto um suspeito recorrente, vivido por Jared Leto, surge como o foco preferencial do departamento. Dirigido por John Lee Hancock, o filme apresenta essa dinâmica sem glamour, priorizando o choque entre um policial veterano, moldado por frustrações e culpas, e outro que tenta manter o rigor de procedimentos recentes. O roteiro é original e não deriva de obra literária.

A investigação segue rituais conhecidos: visitas a apartamentos vazios, buscas em arquivos, entrevistas rápidas com possíveis testemunhas e longas vigílias em bairros periféricos. O filme registra esses movimentos com atenção ao desgaste físico e emocional. Deacon observa cada detalhe, inclina o corpo sobre fotos, examina objetos deixados no chão e registra horários com desconfiança crescente. Baxter tenta organizar planilhas, dividir tarefas e manter vínculo com a família, mas o ritmo da apuração o arrasta para turnos estendidos e decisões tomadas às pressas. Esses contrastes estruturam o suspense.

Washington interpreta Deacon com contenção. O personagem hesita ao entrar em quartos escuros, demora ao acender luzes e examina ambientes com uma combinação de método antigo e intuição perturbada. A câmera destaca mãos que param no ar antes de tocar portas, olhos que percorrem rachaduras na pintura e respirações curtas diante de fotografias. A experiência acumulada pesa mais do que qualquer frase dita, e o veterano passa a noite em vigílias improvisadas, empilhando frustrações que nunca verbaliza. Esse acúmulo compõe a espinha emocional da narrativa.

Baxter aparece inicialmente como contraponto: rotina organizada, treinos matinais, refeições rápidas com a família e disposição para cumprir normas. O detetive exibe confiança em relatórios, horários e mapas. Com o avanço da investigação, esse perfil começa a rachar. Malek ilumina essas alterações em gestos: o personagem passa a demorar no carro antes de voltar para casa, aceita vigílias informais e abandona regras que antes tratava como limite. Cada concessão nasce de urgências práticas, como a falta de provas e a cobrança direta de superiores. O filme registra esse processo sem sublinhar heroísmo ou queda moral, apenas observando consequências.

O suspeito interpretado por Jared Leto trabalha em uma loja de eletrodomésticos e vive em um pequeno apartamento cercado por ruídos do entorno. O personagem acumula comportamentos que alimentam suspeitas: observa policiais com ironia, repete provocações, descreve rotinas que não se encaixam com horários investigados. Hancock filma esse homem em planos que reforçam a instabilidade do ambiente, com luzes irregulares e corredores estreitos. Quando a dupla passa a vigiá-lo, o suspense se constrói nas distâncias: passos prolongados, carros que mantêm faróis baixos, sombras que cruzam a rua antes de qualquer confronto.

A Los Angeles do filme exibe motéis de iluminação fraca, delegacias com luz branca e postos de gasolina que servem de refúgio para conversas rápidas. Esse cenário revela uma cidade que tenta conter estatísticas enquanto enfrenta limitações tecnológicas. No início dos anos 1990, cruzamentos de dados dependem de fichas, telefonemas e deslocamentos físicos, o que amplia a importância de cada vestígio: um recibo encontrado no bolso de uma vítima, a marca de pneu próxima a um beco ou o horário anotado por uma moradora que ouviu barulhos tarde da noite. Esses elementos guiam o suspense porque representam tudo o que se tem.

A trilha sonora é contida e cede espaço a ruídos de viaturas, ao chiado do rádio policial e ao som de portas metálicas que se fecham com força. Esses elementos reforçam o cansaço dos personagens. Turnos noturnos se acumulam, ocorrências paralelas disputam atenção da equipe, e a imprensa pressiona por resultados. O departamento vive entre a necessidade de apresentar um nome e a ausência de provas sólidas. Esse ambiente cobra dos policiais decisões que, mais tarde, retornam como peso emocional.

À medida que a apuração avança, Deacon e Baxter se isolam de vínculos externos. Um se afasta de colegas que tentam retomar conversas antigas; o outro se distancia da própria família para acompanhar hipóteses que só ganham força dentro da dupla. O filme acompanha esse desgaste em objetos simples: xícaras esquecidas em mesas de plantão, roupas amarrotadas após noites mal dormidas, pilhas de relatórios que se acumulam nos porta-malas. O suspense nasce desse ritmo de corrosão diária.

O desfecho evita explicar a origem de todas as pistas e concentra atenção nos efeitos visíveis da investigação. As incertezas permanecem, mas o que muda é a forma como os dois policiais carregam o trabalho. Depois de um turno exaustivo, Deacon permanece imóvel diante de uma estrada vazia, iluminado apenas pelo giroflex que corta a escuridão que ele mesmo ajudou a alimentar.

Filme: Os Pequenos Vestígios
Diretor: John Lee Hancock
Ano: 2021
Gênero: Crime/Drama/Mistério/Suspense
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★