“Quero Você” começa como uma promessa de tensão e termina como um exercício de resistência. O filme, ambientado na ensolarada ilha de Maiorca, tenta se sustentar sobre a atmosfera do suspense, mas o que se constrói ali é mais um jogo de aparências do que um thriller propriamente dito. Tudo parece calculado para seduzir o espectador pelo cenário, e apenas por ele. A fotografia é impecável, a luz mediterrânea é quase um personagem, mas a trama parece se dissolver sob o próprio sol. A história de Lili e Valeria, duas irmãs que se reencontram após anos e se veem envolvidas em uma rede de manipulação e interesses, tinha potencial para explorar o abismo entre afeto e poder, mas se perde em uma sucessão de diálogos desajeitados e situações que nunca se resolvem em algo mais profundo.
O filme parece convencido de que a beleza de seus atores e da paisagem é suficiente para sustentar qualquer conflito. Lili, interpretada por Svenja Jung, é apresentada como uma mulher racional, moldada pela responsabilidade precoce; Valeria, sua irmã, surge como o oposto, impulsiva, sedutora, quase caricatural. Essa oposição poderia funcionar como uma metáfora sobre os limites entre moral e desejo, mas o roteiro insiste em simplificar tudo a uma disputa de vontades. A entrada de Manu, o noivo francês, e de Tom, o barman alemão, acrescenta pouco mais que uma camada de confusão a uma trama já desequilibrada. A tensão entre eles existe apenas no discurso: o filme anuncia um mistério, mas não o entrega.
O que há de mais inquietante em “Quero Você” é a distância entre intenção e execução. A direção tenta emular a lógica dos thrillers nórdicos, mas sem a densidade psicológica que sustenta esse tipo de narrativa. O resultado é um filme que se leva a sério demais e que parece feito por quem confunde lentidão com profundidade. Os longos silêncios, que deveriam criar suspense, acabam denunciando o vazio do roteiro. Há uma tentativa de erotizar a trama, de sugerir segredos e traições, mas tudo parece coreografado demais para despertar qualquer real desconforto.
A relação entre as irmãs, que deveria ser o centro emocional do filme, é tratada com superficialidade. Falta verdade nos gestos e nas palavras. Os diálogos não fluem, os confrontos não convencem, e o espectador nunca chega a acreditar que há ali algo em jogo além da própria encenação. Há momentos em que a fotografia, ao tentar construir uma tensão sensual, acaba apenas reforçando a artificialidade da situação. O filme parece não confiar na inteligência de quem o assiste: explica o que deveria sugerir, dramatiza o que poderia apenas insinuar.
Apesar disso, “Quero Você” é belo de se ver. As cores, os enquadramentos, o uso da luz natural, tudo é cuidadosamente construído. O problema é que, enquanto a imagem fascina, o conteúdo se esvazia. A ilha de Maiorca, com suas falésias e vilas ensolaradas, torna-se o verdadeiro protagonista. Há uma ironia nisso: o cenário é o único elemento que parece ter substância, enquanto os personagens vagam como turistas em busca de um enredo. O espectador acaba observando a paisagem como quem olha um cartão-postal, admirando o que vê, mas sentindo falta de algo que o toque.
“Quero Você” é um filme sobre disfarces, não apenas os das personagens, mas o do próprio projeto. Finge ser um suspense, mas é uma história de manipulação sem consequências. Finge ser uma reflexão sobre o desejo, mas reduz tudo a um jogo de sedução previsível. Finge ter profundidade, mas vive de aparências. A experiência final é a de um belíssimo convite visual para um destino onde nada realmente acontece. E talvez esse seja seu maior fracasso: entregar uma ilusão perfeita de intensidade, sem nunca permitir que algo verdadeiro aconteça diante da câmera.
★★★★★★★★★★


