Netflix abre o Natal 2025 com uma comédia romântica que não promete milagres, só uma noite mais leve Marni Grossman / Netflix

Netflix abre o Natal 2025 com uma comédia romântica que não promete milagres, só uma noite mais leve

O Natal nunca foi unanimidade, e o cinema oferece provas à mancheia para tal asserção. Parece que grandes tragédias, íntimas e de dimensões planetárias, esperam aquele tempinho mágico definido pela última semana do ano para, afinal, romper a casca do inaudito e vir à tona, deixando um rastro de corações partidos, de lágrimas, às vezes de sangue. De Billy Wilder (1906-2002), com “Se Meu Apartamento Falasse” (1960), cult mais e mais atemporal, a Chris Columbus, o mago por trás do fenômeno “Esqueceram de Mim” (1990), passando por “O Grinch” (2000), dirigido por Ron Howard, e “O Estranho Mundo de Jack” (1993), de Tim Burton e Henry Selick, celebrações natalinas sempre renderam boas histórias, e com “Um Natal Ex-pecial” o fenômeno se repete — a despeito do que possam dizer os ranzinzas. Steve Carr olha para a celebração mais esperada do ano com lentes rosicleres e, estranhamente, isso não chega a ser nenhum mal-estar. Seu filme apresenta todos os elementos dos melodramas típicos da estação, mas também dosa observações argutas sobre as novíssimas estruturas familiares e faz graça com as tantas expectativas que criamos acerca da schopenhaueriana natureza do amor.

O casamento de Kate e Everett está por um fio. Há vinte e cinco anos, ela deixara Boston por Winterlight, uma cidade pequena e muito aconchegante onde todo mundo sabe da intimidade de todo mundo, porém, diferentemente do que ela pensava, conserva-se amigável aos novos futuros divorciados do lugarejo. Everett formara-se e abrira uma clínica enquanto ela resignou-se a ajudar os filhos nas tarefas da escola e fazer biscoitos de gengibre nas festas da vizinhança, e agora, antes que a mágoa se instale de vez, ela resolveu que é hora de sair em busca do tempo perdido. Quando estão mesmo de acordo, acertam os detalhes da última comemoração de Natal na casa da família, junto com os filhos e os pais de Everett, um casal de dois homens. A roteirista Holly Hester surfa essa onda da inclusão, aproveitando para também insinuar um maldisfarçado etarismo contra Kate, que parece em choque com a nova namorada de Everett, mais nova e mais rica. Com o que tem, Alicia Silverstone contorna a obviedade da mulher ressentida que ainda ama o ex-marido com o carisma magnético das anti-heroínas que costumava interpretar na década de 1990, caso da inesquecível Cher Horowitz de “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995), o clássico da comédia romântica infantojuvenil de Amy Heckerling. Silverstone é a mestre de cerimônias perfeita para o elenco de apoio capitaneado por Pierson Fodé, e bate uma bola redonda com Oliver Hudson. É por isso que a conclusão, farsesca, não incomoda — até porque, no Natal, tudo é possível. E nos filmes de Natal mais ainda.

Filme: Um Natal Ex-Pecial
Diretor: Steve Carr
Ano: 2025
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.