Comédia com Morgan Freeman e Alan Arkin, na Netflix, é aquele tipo raro de filme que abraça sem precisar dizer nada Divulgação / New Line Cinema

Comédia com Morgan Freeman e Alan Arkin, na Netflix, é aquele tipo raro de filme que abraça sem precisar dizer nada

Há um certo prazer em assistir três velhos amigos decidindo que o crime é uma boa ideia. Especialmente quando esses amigos são Morgan Freeman, Michael Caine e Alan Arkin. Em “Despedida em Grande Estilo”, o assalto ao banco é menos sobre dinheiro e mais sobre dignidade. Eles não querem apenas reaver o que lhes foi tirado por um sistema que devora aposentadorias e promete estabilidade apenas para quem não precisa dela. Querem, acima de tudo, provar que ainda há vida, e um senso de humor afiado, dentro de corpos que a sociedade já tratou de arquivar.

O filme é dirigido por Zach Braff, aquele que, desde “Garden State”, insiste em procurar poesia nas pequenas derrotas cotidianas. Aqui, ele troca o existencialismo juvenil pelo cansaço do envelhecimento. O resultado é uma comédia leve, agradável e previsível, que sabe exatamente o que quer: entreter sem ameaçar, divertir sem questionar demais. E, ainda assim, algo pulsa por baixo das piadas sobre velhice e tecnologia, uma melancolia suave, o reconhecimento de que envelhecer é assistir o mundo seguir sem você, enquanto tenta rir para não gritar.

A química entre os protagonistas é o que sustenta a trama. Freeman, Caine e Arkin funcionam como uma engrenagem perfeitamente calibrada, o cínico, o racional e o sentimental se equilibram em diálogos simples, mas carregados de cumplicidade. É impossível não sentir que há uma amizade real por trás das falas roteirizadas. Eles não interpretam apenas aposentados indignados: interpretam o próprio tempo, cada um reagindo ao declínio com ironia, nostalgia ou uma espécie de teimosia vital. Ann-Margret e Christopher Lloyd, em participações pontuais, ampliam esse retrato afetivo do envelhecimento, ambos lembram que ainda é possível desejar, rir e trapacear, mesmo depois dos setenta.

Braff, no entanto, não arrisca. Prefere a segurança do conforto, o tipo de humor que não machuca, não provoca, apenas faz sorrir. “Despedida em Grande Estilo” é um daqueles filmes que parecem feitos sob medida para uma tarde chuvosa de domingo: previsível, caloroso, quase terapêutico. Há algo de culinário na experiência, é como uma sopa recheada com capricho, sem temperos novos, mas ainda assim saborosa. Tudo é limpo, polido, sem excessos. Até o assalto, que deveria ser o ponto alto, é tratado como um ritual lúdico, sem o menor desejo de parecer crível.

O filme fala, de forma tímida mas honesta, sobre o abandono dos idosos em um sistema econômico que os reduz a números descartáveis. Essa camada social não é aprofundada, mas está ali, latente, como um protesto educado. Os personagens não querem subverter o sistema, apenas recuperar o que acreditam ter direito. É um gesto de rebeldia contida, e talvez aí resida seu charme. “Despedida em Grande Estilo” não é um filme de assalto, é uma parábola sobre envelhecer e não pedir desculpas por ainda estar vivo.

O que fica não é a trama, nem o humor, mas a sensação de ter passado algum tempo com gente boa. O riso surge menos das situações e mais do prazer de vê-los juntos, zombando da própria mortalidade. Há filmes que desafiam, outros que confortam. Este escolhe a segunda via, com a serenidade de quem já entendeu que não precisa provar nada a ninguém. E talvez, justamente por isso, funcione tão bem: porque lembra que, mesmo diante da velhice e da perda, ainda é possível planejar um golpe, e sair rindo.

Filme: Despedida em Grande Estilo
Diretor: Zach Braff
Ano: 2017
Gênero: Comédia/Crime
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★