O mundo adora ser enganado. Há um prazer quase infantil em assistir alguém puxar uma carta do nada e acreditar, por alguns segundos, que o impossível está ao alcance da mão. “Truque de Mestre” tenta canalizar essa euforia coletiva transformando truques de palco em espetáculo global. Há luzes, ovelhas conduzidas pelo marketing e quatro mágicos convertidos em celebridades instantâneas. É o triunfo da aparência: quanto mais brilhante, mais as pessoas olham; quanto menos você pensa, mais você sorri.
A questão é que o filme se comporta como aquele ilusionista exibido que, ao invés de guardar o segredo, precisa esfregar na plateia que é genial. Ele convida o público a participar de uma gincana intelectual, mas entrega soluções mastigadas, o que anula a graça do jogo. A diferença entre mistério e confusão está na capacidade de sugerir um caminho sem entregar todo o mapa. Aqui, tudo é entregue cedo demais, como se o próprio roteiro desconfiasse da inteligência de quem assiste.
Há uma tentativa de conspirar grandeza: sociedades secretas, vingança corporativa, economia como piada de salão. Mas o filme trata ideias complexas como se fossem coelhinhos saindo de uma cartola infantil. E, quando tenta articular romance, o faz com a delicadeza de quem manda um bilhete para alguém que nunca viu: “eu te amo e é isso”. A espontaneidade que não veio de lugar nenhum, mas que supostamente deveria emocionar.
O elenco se esforça. Woody Harrelson e Morgan Freeman parecem entendidos do jogo, sabem que estão num parque temático e se divertem com isso. Jesse Eisenberg, no entanto, abraça um pedantismo tão constante que parece competir com o filme: quem será o mais convencido de sua própria genialidade? Dave Franco entrega físico e talento, mas fica preso no papel de quem corre, pula, luta e pouco existe além do suor. Isla Fisher é o charme, porque sempre alguém precisa ser o charme, mesmo quando poderia ser muito mais que ornamento luminoso.
O filme pisa forte no acelerador das perseguições, das fugas mirabolantes, do “olhe para lá enquanto faço outra coisa por aqui”. Só que falta algo essencial: o porquê. Grandes truques deixam pistas. Grandes narrativas deixam sentido. Aqui, a motivação dos ilusionistas é tratada como nota de rodapé, e nada mais desmobiliza um enigma do que perceber que ninguém dentro dele parece ter um desejo real.
Quando se revela o plano mestre, tudo já estava entregue. Não há assombro, apenas a sensação de que o cofre estava destrancado desde o início e ninguém se deu ao trabalho de fingir o contrário. O filme tenta jogar com prestígio, mas gasta todo o seu talento com fumaça. E quando a fumaça se dispersa, percebemos que havia muito menos por trás do pano do que nos prometeram.
É curioso: “Truque de Mestre” mira a grandiosidade de um espetáculo inesquecível, mas acaba se tornando aquele show de rua que você acha divertido por cinco minutos e, segundos depois, já não lembra mais do que viu. Talvez esse seja o truque mais honesto dele: ensinar que, se não houver algo pulsante detrás da ilusão, a mágica dura apenas enquanto dura o aplauso.
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