100 milhões de pessoas nos cinemas: o longa de Bradley Cooper e Lady Gaga, indicado a 8 Oscars, agora na Netflix Divulgação / Warner Bros.

100 milhões de pessoas nos cinemas: o longa de Bradley Cooper e Lady Gaga, indicado a 8 Oscars, agora na Netflix

Um músico famoso encontra uma compositora anônima e decide apostar nela, enquanto a própria vida perde estabilidade. Em “Nasce Uma Estrela”, Bradley Cooper dirige e atua ao lado de Lady Gaga e Sam Elliott. O conflito central é direto: a ascensão de uma voz nova depende do apoio de quem a descobriu, e essa relação pressiona um artista que enfrenta dependência e perda de referência. A pergunta que move a trama é como avançar juntos quando as curvas da carreira seguem sentidos opostos.

Jackson Maine, vivido por Bradley Cooper, inicia a história com rotina de shows lotados e consumo constante de álcool, sinal de que o sucesso já não orienta seu dia. Após uma apresentação, ele procura mais bebida e termina em um bar onde Ally, interpretada por Lady Gaga, canta com segurança e repertório próprio. O encontro altera objetivos nos dois lados. Para Jackson, o trabalho ganha sentido renovado: ele deseja levar aquela voz a um palco maior. Para Ally, abre-se um caminho concreto para mostrar composições que antes ficavam guardadas por falta de oportunidade. A partir daí, convites, ensaios e viagens respondem a essa mudança inicial.

Quando Jackson chama Ally para subir ao palco, a proposta mexe com o tempo da personagem. Ela hesita por motivos práticos, emprego e autoconfiança, mas ele remove barreiras ao providenciar transporte e espaço no show. A virada ocorre quando Ally canta uma canção autoral diante de milhares de pessoas. A consequência é imediata: o público reconhece uma artista, a mídia se aproxima e produtores fazem contato. O objetivo de Ally se redefine: deixa de ser apenas cantar e passa a incluir consolidar repertório e entrar no circuito profissional. O objetivo de Jackson passa a incluir a função de mentor e parceiro, algo que exige presença, disciplina e sobriedade, itens que sua rotina não oferece com regularidade.

Com as primeiras aparições, um empresário se aproxima de Ally e propõe estratégia de lançamento. O foco, antes nas letras que ela trabalhava ao lado de Jackson, muda para um pacote que inclui arranjos, visual e coreografias. Essa escolha altera o ponto de vista do espectador, porque a narrativa passa do palco visto do músico para bastidores de programas de TV e estúdios, onde a câmera acompanha reuniões, figurinos e gravações com horários apertados. O ritmo acelera, a agenda fica cheia e o tempo do casal encurta. Câmera e montagem deslocam o foco do palco para bastidores, mudando informação e percepção do conflito.

Enquanto Ally aprende a negociar entrevistas, ensaios e letras, Jackson enfrenta limites físicos que não dependem de vontade. Sua audição falha, ele sente zumbidos e tenta esconder sintomas com mais bebida. Essa escolha aciona uma cadeia de efeitos. No palco, erra entradas; fora dele, a irritação cresce, o ciúme aparece e discussões explodem em momentos-chave da carreira de Ally. Quando Jackson aparece sem avisar em uma gravação e tenta se inserir na sessão, o gesto desvia o foco do trabalho e revela fragilidade e medo de ficar de fora. Cada recaída corrói sua capacidade de cumprir a promessa implícita do primeiro convite, a de sustentar a parceira enquanto ela aprende a ser estrela.

A narrativa então alcança uma cerimônia de grande visibilidade. Ally recebe indicações e se apresenta, enquanto Jackson tenta acompanhar e falha no controle sobre si. O que acontece ali, diante de todos, produz uma consequência decisiva: a imagem pública de Ally sofre impacto imediato, e o casal precisa lidar com danos que não se apagam no dia seguinte. A partir desse evento, o objetivo de Jackson se reorganiza. Ele admite que precisa de ajuda e aceita tratamento. O filme marca essa transição com escolhas claras de som e enquadramento, que reduzem o barulho do mundo e aproximam o rosto do personagem enquanto ele admite erros e pede desculpas. A mudança altera o curso do enredo, porque abre a possibilidade de reconstrução e impõe novo relógio à relação.

Concluída a reabilitação, forma-se um equilíbrio provisório. Ally, com turnê planejada, precisa decidir entre adiar compromissos ou seguir com o cronograma. O empresário apresenta a conta de manter tudo como antes, e ela compreende que cada concessão tem preço. Jackson, por sua vez, retorna para casa com a consciência de que sua presença pode ajudar ou atrapalhar. A conversa entre ele e o empresário, feita longe de Ally, funciona como virada silenciosa, porque redefine a percepção de risco do músico. Não é apenas uma questão de amor, é uma equação que inclui carreira, contratos, imagem e a possibilidade de recaída.

Esse conjunto de pressões empurra a história ao ponto máximo. Jackson, sozinho, revisita lembranças e mede a própria influência no futuro de Ally. Ele avalia o peso do episódio na premiação, mede o efeito nos convites já confirmados e calcula o que sua presença custará à turnê. O tempo dramático aperta porque datas de shows se aproximam e a cidade onde vivem se torna pequena para evitar comentários e olhares. A consequência imediata desse cerco é o isolamento do músico, que toma uma decisão com capacidade de proteger a parceira e, ao mesmo tempo, de danificar tudo ao redor. O filme preserva a tensão ao sugerir o gesto sem detalhar sua resolução.

Do lado de Ally, a trajetória se traduz em atos concretos. Ela passa de compositora tímida a artista que precisa escolher repertório sob pressão, negociar imagem e defender letras em ambiente competitivo. A trilha, quando alterna palco e bastidor, sinaliza a passagem de uma relação intimista para uma carreira em escala nacional, e essa mudança afeta a forma como ela enxerga Jackson. Em cenas de ensaio doméstico, as canções funcionam como diálogo entre os dois; em programas de TV, viram exibição de resultados, o que desloca o lugar do parceiro na narrativa. Quando Ally tenta equilibrar convites e cuidado com Jackson, o roteiro deixa claro o custo de cada opção.

Sam Elliott interpreta Bobby, irmão e parceiro de estrada de Jackson, figura que conhece a origem do músico e expõe, em poucas conversas, o peso de antigas escolhas familiares. Essa presença introduz informação objetiva sobre passado e culpa e amplia o alcance do conflito. Não se trata apenas de romance e carreira, mas de uma história de trabalho que começou antes do encontro com Ally e agora pede revisão para que alguém siga adiante. O olhar do irmão, de dentro do negócio e da família, faz a ponte entre os mundos e ajuda a explicar por que certas palavras ditas em uma garagem têm peso maior que aplausos.

Nesse percurso até o ponto máximo, “Nasce Uma Estrela” concentra atenção em decisões com efeitos mensuráveis no palco e em casa. Um convite muda um destino, a exposição redefine prioridades, a doença impõe prazos e a indústria cobra respostas. O desfecho permanece preservado, mas a consequência já está posta em cena. A próxima temporada de shows, já agendada, indica o tamanho da ausência que cada um terá de administrar entre malas, contratos e microfones.

Filme: Nace uma Estrela
Diretor: Bradley Cooper
Ano: 2018
Gênero: Drama/Musical/Romance/Tragédia
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★