Nova série da Netflix traz o triângulo amoroso mais intenso do ano — estranha, mas impossível de parar de ver Divulgação / Netflix

Nova série da Netflix traz o triângulo amoroso mais intenso do ano — estranha, mas impossível de parar de ver

Por mais forte que seja o amor, casamentos, por óbvio, não estão livres de problemas. Mal-entendidos grandes ou pequenos tornam-se um obstáculo à felicidade, estabelecer uma convivência sem as atribulações que envenenam o casal transforma-se num desafio rotineiro, comportamentos antes tidos como desagradáveis apenas viram tortura, desconfianças bobas turvam de breu horizontes rosicleres. Alicia Fernández escolhe passar por isso não uma, mas duas vezes e, arrasta junto consigo dois homens e duas crianças. “Simplesmente Alicia” tem, sim, um tom nonsense, mas ao longo dos dezenove episódios vai aparecendo um ou outro ensinamento para quem tem vontade de aventurar-se pelas agruras e belezas dos relacionamentos sérios. Marta Betoldi e Esteban del Campo Bagu demonstram a  inequívoca liderança da Colômbia na produção de conteúdo audiovisual em espanhol para streaming, com 2,59 bilhões de horas assistidas e 24,6% do mercado latino-americano, só na Netflix. Pluralidade é a fórmula do sucesso, como se vê aqui.

Já nos primeiros minutos nota-se que há algo de muito errado com Alicia. Ela corre para retirar o vestido na costureira, revira a bolsa procurando o recibo, entrega o papel à funcionária e com ele um livro de seu escritor predileto. Essa é a primeira pista do que o espectador assistirá depois que ela, com o carro rebocado, subir na moto de Susana, a melhor amiga interpretada por Constanza Camelo, e seguir para a igreja, onde Pablo a espera. Susana é a única a vislumbrar o perigo, mas Alicia vai em frente, movida pela paixão e subestimando a inteligência dos que a cercam. Nada a impede de dar andamento ao plano e subir ao altar com o homem dos seus sonhos, mas Pablo não é o único. Alejo, o autor do best-seller que Alicia dera à mulher que a atendera, chegou antes e, embora famoso, nunca chamara a atenção de Pablo. A direção de Catalina Hernández e Rafael Martínez Moreno extrai do texto de Betoldi e Bagudetalhesà primeira vista insignificantesque tomam o leito da narrativa, e ninguém mais acha estranho que Pablo, por convicção ou desalento, abrace a carreira religiosa. Isso é o de menos se comparado com o que ainda virá.

Hernández e Moreno fazem a história dar alguns saltos e mostram a protagonista grávida de gêmeos. Por mais absurda que soe a possibilidade, não é difícil imaginar como “Simplesmente Alicia” evolui. Verónica Orozcoameniza o choque ao apostar numa interpretação melodramática, sensível e engraçada em igual medida, inspirando Sebastián Carvajal e Michel Brown a fazerem o mesmo. Sobra espaço para que se imponha alguma especulação quanto à jornada de redenção moral da anti-heroína de Orozco; todavia é melhor não levar nada a sério e rir, odiando a leviandade dessa mulher que ama, ama demais.


Série: Simplesmente Alicia
Criação: Marta Betoldi e Esteban del Campo Bagu
Direção: Catalina Hernández e Rafael Martínez Moreno
Ano: 2025 
Gêneros: Comédia, drama 
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.