Chamado de filme perfeito, romance com Bradley Cooper já foi visto por 550 milhões de pessoas desde o lançamento — está no Prime Video

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Um homem retorna à casa dos pais após uma internação, com ordem judicial, medicação e acompanhamento terapêutico. O objetivo declarado é retomar a estabilidade e, se possível, recuperar o casamento. A partir dessa meta, “O Lado Bom da Vida” constrói um percurso de tentativas, quedas e acordos que aproximam ou afastam a chance de recomeço. Dirigido por David O. Russell, o filme é protagonizado por Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro e Jacki Weaver. Trata-se de adaptação do romance “O Lado Bom da Vida”, de Matthew Quick, o que reforça o interesse em acompanhar escolhas de personagens que precisam provar controle com evidências visíveis.

Pat Solitano Jr. volta ao quarto antigo e tenta fixar rotina. Quer mostrar ao sistema jurídico, ao terapeuta e à família que consegue manter disciplina suficiente para reabrir contato com a ex-esposa. O primeiro obstáculo é interno: impulsividade que se ativa por gatilhos previsíveis. O segundo é externo: fiscalização constante e regras claras para evitar aproximações indevidas. Em um jantar na casa de amigos, Pat conhece Tiffany, jovem viúva que também busca recompor a própria vida. A conversa direta abre um pacto: ela promete intermediar uma mensagem, ele se compromete a acompanhá-la em treinos regulares. O enredo ganha uma agenda que altera o tempo dramático, porque passa a existir um calendário de encontros com metas.

A parceria cresce quando o acordo deixa de ser favor único e vira tarefa com presença e pontualidade. Os treinos ocupam horários vulneráveis, reduzem espaços de recaída e produzem marcos de avanço. Ao mesmo tempo, criam novas frentes de atrito. Pat lê a rotina como ponte para o casamento, Tiffany a vê como chance de sair do isolamento e recuperar autoestima. Esse desajuste de expectativa move cenas de discussão pública que têm efeito concreto: vizinhos observam, familiares reagem, e cada incidente volta como dado em consultas futuras. O romance, assim, não dissolve a pressão; redistribui pesos entre o que se deseja e o que se consegue provar.

No interior da casa, outro vetor interfere: Pat Sr., supersticioso e ligado ao futebol americano, associa o comportamento do filho aos resultados do time. Esse traço vira motor de cobrança em dias de jogo e muda prioridades da casa. Dolores, a mãe, tenta manter o ambiente funcional, cuida de horários e acalma barulhos de casa para evitar gatilhos. Essa dinâmica doméstica não é adorno. Afeta a agenda dos treinos, cria conflitos de horário e impõe negociações de última hora. Quando o pai exige presença para um ritual esportivo, o compromisso com Tiffany fica em risco; se Pat falha, perde confiança na parceria e atrasa o plano de estabilidade.

A montagem usa elipses curtas para mostrar sequência de treinos e consultas, indicando ganho de regularidade sem suprimir a tensão. Em acessos de irritação, a câmera se aproxima e estreita o campo de visão, o que altera o ponto de vista e antecipa a possibilidade de incidente. Esses recursos técnicos mudam informação: sinalizam risco em tempo real e orientam a leitura do espectador sobre o que pesa naquele instante. Quando a terapia impõe limites de contato, o roteiro registra a mudança de estratégia de Pat: ele depende cada vez mais de Tiffany para manter vivo o plano de reaproximação sem ferir a ordem judicial.

Os diálogos cumprem função de contrato. Pat insiste em metas explícitas de autocontrole e repete justificativas para convencimento do entorno. Tiffany responde com listas de tarefas e fronteiras, transformando encontros em um acordo com checagem. A cada avanço, ela concede um passo; a cada deslize, revê a oferta. Essa mecânica guia a curva de tensão. A história passa a depender menos de declarações emocionais e mais de entregas verificáveis: comparecer, treinar, evitar disparadores, cumprir horários. Quando o bairro toma ciência da parceria, cresce a pressão para que o resultado apareça em teste público, condição que amplia o risco de falha sob observação.

Robert De Niro compõe o pai como agente de cobrança que age fora do consultório, mas com efeitos semelhantes. Ao atrelar a disciplina do filho ao desempenho do time, cria rituais que competem com a agenda do casal. Jacki Weaver constrói a mãe como eixo prático, cuidando para que refeições, remédios e horários estejam disponíveis. Essas escolhas interpretativas mudam o sentido de cenas decisivas: uma conversa na sala vira encruzilhada de prioridades, porque o que se deixa de fazer em casa compromete o que precisa acontecer lá fora. Quando o pai exige presença em um compromisso esportivo e Tiffany marca treino no mesmo horário, a narrativa amarra os dois fios e aumenta o custo de qualquer decisão.

Em certo ponto, uma aposta externa conecta resultados do time a um teste público que mede o desempenho de Pat e Tiffany. Essa costura cria simultaneidade e impõe consequência direta: se um lado falha, o outro perde valor. O roteiro monta a escalada com incidentes menores que afetam moral e confiança. Um encontro mal interpretado ativa alertas do terapeuta. Uma discussão na rua vira registro para a família. Uma visita inesperada reacende o passado e ameaça o acordo. O acúmulo dessas ocorrências empurra os personagens para o ponto de maior tensão, no qual público, família e regras legais convergem.

A trilha musical interfere na percepção de tempo e foco. Canções em treinos marcam cadência, sugerem avanço e ajudam a manter o par no ritmo exigido pelo compromisso. Em cenas de risco, o volume cai e sons de ambiente tomam a frente, o que indica perda de controle iminente. A fotografia enfatiza interiores com cores quentes e luz próxima, reforçando a casa como laboratório de conduta. Em ambientes coletivos, a profundidade de campo reduzida isola o par mesmo dentro da multidão, deixando claro que a prova a ser cumprida não depende de torcida, e sim de precisão no que foi treinado.

Bradley Cooper modela Pat como alguém que organiza o mundo por listas e regras, tentando converter emoção em sequência de passos. Essa opção altera o tom de conflitos, porque seus argumentos recorrem a itens e prazos, não a metáforas. Quando ele falha, a queda é objetiva e rápida, e a narrativa registra a consequência logo a seguir. Jennifer Lawrence interpreta Tiffany com franqueza direta, sem ornamento. Cada negativa sua tem função de ajuste: se Pat ignora um limite, ela fecha uma porta; se ele cumpre o combinado, ela abre outra. Essa dinâmica, por vezes dura, traz clareza sobre o que está em jogo e ajuda a empurrar o par ao teste público.

O ponto de maior tensão junta exposição, avaliação e chance de reconfiguração de vínculos. Há plateia, há mediadores e há pontuação. O risco está quantificado. Pat precisa decidir como usar o que treinou e o que valorizar diante de olhares que esperam resultado. A encenação de David O. Russell privilegia reações e cortes curtos, o que desloca o foco do acerto técnico para o compromisso assumido. A resolução permanece preservada aqui, mas seu efeito imediato é verificável: muda a rota do objetivo inicial e redefine quem responde por ele a partir daquele dia.

Filme: O Lado Bom da Vida
Diretor: David O. Russell
Ano: 2012
Gênero: Comédia/Drama/Romance
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★