Sabe aquele riso que você não consegue segurar, aquele tipo que explode sem cerimônia, direto da barriga e sem pedir licença? “Eu Quer Matar Meu Chefe” tem exatamente essa capacidade, e faz questão de brincar com ela o tempo todo. Pela primeira vez em anos, senti que o humor adulto conseguiu ser tão moderno quanto cruel, mas sem perder a leveza, cada piada acerta como um tijolo lançado em câmera lenta, e você ri antes de processar o absurdo do que aconteceu. Jason Bateman, mais uma vez, desafia qualquer crítica ao entregar uma performance que é ao mesmo tempo segura, afiada e irresistivelmente irônica; ele parece sussurrar aos céticos: “Vocês não entenderam nada, mas vejam só como eu posso ser brilhante”.
O elenco não apenas cumpre seu papel, ele brilha em uníssono. Bateman, Sudeikis e Charlie Day formam o trio central que explora arquétipos masculinos clássicos, o racional, o alfa e o idiota, mas com timing e química que transformam estereótipos em pura comédia. Do outro lado, os chefes são tão detestáveis quanto deliciosamente caricatos: Spacey acerta na arrogância implacável, Farrell, injustamente subutilizado, oferece a surpresa certa, e Jennifer Aniston simplesmente se liberta de seu registro habitual, entregando uma vilã sexualmente audaciosa, cínica e hilariante. É quase possível ouvir seu suspiro de alívio: finalmente ela pode ser escrachada, e isso é ouro puro.
O filme também funciona porque entende o ritmo da comédia adulta: não há momentos de pudor, não há hesitação. Humor sexual, racial e até grotesco são manejados com precisão, sempre surpreendendo o espectador sem cair na vulgaridade gratuita. Algumas pessoas podem se irritar com Charlie Day, eu, pelo contrário, ri horrores, lembrando do mesmo absurdo brilhante que ele cria em “It’s Always Sunny in Philadelphia”. O roteiro, ainda que às vezes forçado, sabe que seu principal objetivo é provocar riso; finais convenientes ou exageros narrativos são perdoáveis quando cada cena entrega gargalhadas memoráveis.
E, honestamente, há uma deliciosa sensação de nostalgia em ver Spacey interpretando um chefe detestável, remetendo ao icônico “Swimming with Sharks”, enquanto Aniston quebra a monotonia de suas personagens doces e previsíveis. Cada cena se torna um pequeno triunfo de timing cômico e de coragem em desafiar expectativas. Este é um filme que não se preocupa em ser politicamente correto, mas em ser absolutamente honesto com sua intenção: fazer você rir.
Para quem ainda acredita que Hollywood perdeu a capacidade de criar uma comédia adulta de qualidade, “Eu Quer Matar Meu Chefe” é a prova do contrário. Não é uma obra-prima que vá redefinir o gênero, mas é um filme que cumpre sua missão com perfeição: entre sustos de riso e absurdos escancarados, ele nos lembra que, mesmo em tempos de excesso de cuidado.
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