Este filme baseado em fatos reais está emocionando o mundo inteiro — e acaba de chegar ao Prime Video Divulgação / Lionsgate

Este filme baseado em fatos reais está emocionando o mundo inteiro — e acaba de chegar ao Prime Video

Movidos pelo amor que transcende a natureza, bons pais fazem tudo por seus filhos. Adultos cheios de inseguranças e medos, pais e mães viram leões em nome da cria, defendendo e sacrificando suas vontades por crerem que esse é o dever que lhes outorga alguma força suprema, o que nada tem a ver com formação religiosa. Há quem abdique de si mesmo para garantir que seu rebento encontre a felicidade, embora saiba que isso pode acabar em dupla frustração. O mundo vem abaixo, a ruína das finanças deixa de ser uma ameaça volátil para converter-se numa sufocante realidade, mas os filhos continuam a tomar o centro das atenções de gente como Scott Michael LeRette. Misturando emoção e senso prático, exatamente como LeRette, “Invencível” descreve muitas das sensações de um pai depois da chegada de seu primogênito, Richard Austin, uma criança adorável, mas de saúde de vidro. A adaptação do diretor Jon Gunn e da corroteirista Susy Flory para “The Unbreakable Boy: A Father’s Fear, a Son’s Courage and a Story of Unconditional Love” (“o menino inquebrável: o medo de um pai, a coragem de um filho e uma história de amor incondicional”, em tradução literal; 2014), livro autobiográfico em que LeRette conta de suas descobertas e reflexões com e sobre Austin, frisa ambos os lados, os pesares e os prazeres da convivência com um portador da osteogênese imperfeita (OI), um mal genético raro que enfraquece os ossos a ponto de se quebrarem ao menor atrito. Doses generosas de paciência e afeto, contudo, tornam o golpe suportável. 

Gunn registra a juventude de LeRette, um rapaz afoito, namorador e com uma clara propensão ao alcoolismo que vai se acentuando. Ele entra na loja em que Teresa dá expediente ao lado de Joe, o amigo imaginário vivido por Drew Powell — o que dá margem para especulações acerca de sua saúde mental ou, no mínimo, que oculta alguma neurodivergência —, e fica encantado pelos olhos especialmente azuis dela, que quer chamar para um encontro mediante a compra de oito pares de calças verdes. Ela aceita o convite, para um café, desde que ele não leve nada e não volte a tentar fazer negociações nesse departamento. O público sente o mal-estar, que o diretor reserva para usar a certa altura. O romance de LeRette e Teresa é apresentado como um mar de rosas, até que ela dá a notícia de que está grávida. Aquele estranhamento inicial torna-se uma confirmação. Numa conversa com Joe (ou seja, num exame de consciência), LeRette admite que não está pronto para ser constituir família, que não pudera colocar em prática os planos que tinha para sua carreira (o que é verdade) e que, claro, não ama a garota. 

Tudo muda, muito tempo depois, com o nascimento de Austin. Enquanto isso, o enredo envereda pelos desencontros entre LeRette e Teresa, um tipo leviano que parece gostar de esconder do marido informações que poderia desejar saber acerca de seu passado e de seu histórico médico. Dentre as do segundo tópico, está a de que a cor peculiar de suas íris tem relação com a OI, e que o bebê possivelmente herdará a condição. Admitam ou não LeRette, Gunn e Flory, mas há um tom farsesco em “Invencível”, administrado com habilidade por Zachary Levi, Meghann Fahy e, por óbvio, Jacob Laval. A interpretação de Laval para Austin, com destaque para a tagarelice eloquente do menino e a fixação por chapéus — seu favorito é um de bobo da corte, meio renascentista —, é um bálsamo na abordagem de um tema ainda hoje maldito, muito por causa do politicamente correto. Se Scott LeRette fosse só um pouco mais corajoso, este filme seria uma verdadeira obra-prima.

Filme: Invencível 
Diretor: Jon Gunn
Ano: 2025
Gênero: Drama
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.